Saudade,
repentinamente maior
De repente fui
tomado por uma saudade sua em proporção maior, mais intensa, mais profunda. Num
dado momento, senti demasiadamente a sua falta, seu colo, sua palavra.
Cenas e mais
cenas de uma vida povoaram meu pensamento. Lembrei-me de muitos fatos, desde
minha tenra idade até quando a senhora me deixou, já adulto.
Descobri que o
menino que recebia seus cuidados havia crescido, mas continuava necessitando de
seus cuidados.
Compreendi agora
o real sentido de uma frase que a senhora sempre usava, e que às vezes eu até
ignorava. Diante de algum sufoco da vida, ou de algum momento triste, dizias em
tom de lamento: “Ah! Se eu tivesse minha mãe...”
Nesses dias, festejamos
o nascimento de Jesus Cristo e já nos preparamos para receber o novo ano.
Veio-me também, nesse instante, o remorso indicador de mea culpa, de que eu poderia ter ficado mais tempo com a senhora,
principalmente nessas datas.
Nem sempre a
senhora me expressava ternura. Muitas vezes me dirigia palavras duras, tom mais
grosso, reprimendas mais severas. Descobri, porém, que ternura de mãe nem
sempre se faz acompanhar de ternura de fato, nos moldes que conhecemos ou
esperamos. Mesmo quando não a demonstra, uma mãe tem sempre ternura. É
sentimento peculiar às mães.
Dos afagos que
me fazia, o de cobrir-me à noite, durante um sono, com um lençol surrado,
adequado à nossa pouca condição financeira, é um dos que mais sinto falta. Era
um gesto simples, do qual, não sei por que razão, lembro-me com tanta saudade. Trazia-me a sensação de estar protegido, amado, cuidado.
O caminhar da
idade me deixa cada vez mais sentimental, de coração mais “frouxo”, de
sensibilidade mais à flor da pele. Talvez isso explique muito o porquê de hoje
ter sentido mais profundamente a sua falta.
A saudade chega
com um caminhão de culpas que acho que tive. Penso que poderia ter feito mais,
ter lhe retribuído melhor todo o bem que a senhora me fez. E por isso sempre
lhe peço desculpas, na presença de Deus, silenciosamente.
Silenciosamente,
choro. De saudade.
Vim fazer do
choro, consequência da saudade, um pouco do que insististes tanto para que eu
fizesse: escrever!
Busquei
transformar essa saudade – incontida, agora – numa singela homenagem à sua
memória.
Sinto orgulho de
ainda ser visto por muitas pessoas – senhoras, principalmente – como “o menino
de Maria do Junco”. Vez por outra sou identificado por esse “sobrenome”. E como
isso me traz alegria!
Dei-lhe três
netos. E eles se parecem demais comigo, que me pareço demais com a senhora,
apesar dos traços fortes de meu pai, de quem também sinto saudade, apesar da
pouca convivência.
Sua neta mais
nova, Maria Rita, tem muito da senhora: do físico e do gênio, ou do jeito de
viver.
Enfim, antes que
as ideais se misturem mais, muito por causa da emoção que me toca, quero apenas
lhe dizer que hoje, mais do que nunca, senti sua falta. Hoje, mais do que
nunca, senti saudade.
Alcimar Antônio
de Souza
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