quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Reflexão


Saudade, repentinamente maior

De repente fui tomado por uma saudade sua em proporção maior, mais intensa, mais profunda. Num dado momento, senti demasiadamente a sua falta, seu colo, sua palavra.

Cenas e mais cenas de uma vida povoaram meu pensamento. Lembrei-me de muitos fatos, desde minha tenra idade até quando a senhora me deixou, já adulto.

Descobri que o menino que recebia seus cuidados havia crescido, mas continuava necessitando de seus cuidados.

Compreendi agora o real sentido de uma frase que a senhora sempre usava, e que às vezes eu até ignorava. Diante de algum sufoco da vida, ou de algum momento triste, dizias em tom de lamento: “Ah! Se eu tivesse minha mãe...”

Nesses dias, festejamos o nascimento de Jesus Cristo e já nos preparamos para receber o novo ano. Veio-me também, nesse instante, o remorso indicador de mea culpa, de que eu poderia ter ficado mais tempo com a senhora, principalmente nessas datas.

Nem sempre a senhora me expressava ternura. Muitas vezes me dirigia palavras duras, tom mais grosso, reprimendas mais severas. Descobri, porém, que ternura de mãe nem sempre se faz acompanhar de ternura de fato, nos moldes que conhecemos ou esperamos. Mesmo quando não a demonstra, uma mãe tem sempre ternura. É sentimento peculiar às mães.

Dos afagos que me fazia, o de cobrir-me à noite, durante um sono, com um lençol surrado, adequado à nossa pouca condição financeira, é um dos que mais sinto falta. Era um gesto simples, do qual, não sei por que razão, lembro-me com tanta saudade. Trazia-me a sensação de estar protegido, amado, cuidado.

O caminhar da idade me deixa cada vez mais sentimental, de coração mais “frouxo”, de sensibilidade mais à flor da pele. Talvez isso explique muito o porquê de hoje ter sentido mais profundamente a sua falta.

A saudade chega com um caminhão de culpas que acho que tive. Penso que poderia ter feito mais, ter lhe retribuído melhor todo o bem que a senhora me fez. E por isso sempre lhe peço desculpas, na presença de Deus, silenciosamente.

Silenciosamente, choro. De saudade.

Vim fazer do choro, consequência da saudade, um pouco do que insististes tanto para que eu fizesse: escrever!

Busquei transformar essa saudade – incontida, agora – numa singela homenagem à sua memória.

Sinto orgulho de ainda ser visto por muitas pessoas – senhoras, principalmente – como “o menino de Maria do Junco”. Vez por outra sou identificado por esse “sobrenome”. E como isso me traz alegria!

Dei-lhe três netos. E eles se parecem demais comigo, que me pareço demais com a senhora, apesar dos traços fortes de meu pai, de quem também sinto saudade, apesar da pouca convivência.

Sua neta mais nova, Maria Rita, tem muito da senhora: do físico e do gênio, ou do jeito de viver.

Enfim, antes que as ideais se misturem mais, muito por causa da emoção que me toca, quero apenas lhe dizer que hoje, mais do que nunca, senti sua falta. Hoje, mais do que nunca, senti saudade.

Alcimar Antônio de Souza

Nenhum comentário: