sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Opinião

De caos e de dignidade

Mais uma vez o Rio Grande do Norte é destaque na grande imprensa do País, inclusive com muito tempo nos jornais das principais redes de televisão. E mais uma vez o destaque nacional se dá por fatos negativos. Da última vez que isso aconteceu, o motivo para tanta aparição na grande mídia foi a crise no sistema prisional potiguar. Agora, a alarmante onda de violência que castiga o povo potiguar o faz voltar ao cenário nacional do jornalismo.

A incompetência singular da gestão do governador Robinson Mesquita de Faria levou o Estado, literalmente, ao caos, à desordem, à barbárie. Logo ele, que durante a sua campanha eleitoral fez duas afirmativas que, dentre outras, ficaram registradas na mente do povo e nos arquivos de mídia: que seria o “governador da segurança” e que no Estado existiam recursos financeiros suficientes, mas o que existia era falta de gestão.

Fazia tempo que não se via um governante potiguar que conseguisse piorar e até paralisar todos os serviços públicos de responsabilidade da Administração Estadual. A cada final de mandato de outros governadores, imaginava-se que o pior havia passado. Mas Robinson nos fez ver, de novo, que não há nada muito ruim que não possa ser piorado.

Não é demais lembrar que as repartições públicas funcionam sem telefonia fixa, pois as linhas foram bloqueadas porque o Estado, gerido pelo senhor Robinson Mesquita de Faria, não pagou as contas à prestadora do serviço. Nesse contexto, as unidades de saúde do Estado, que já não funcionavam a contento, tiveram que funcionar também sem o serviço de telefonia fixa. E então se imagine uma secretaria de Saúde de algum Município tentando fazer uma regulação de atendimento para alguma unidade de saúde do Estado credenciada pelo Sistema Único de Saúde – SUS: um absurdo!

O mais grave, porém, foi a falta de gestão que levou a administração de Robinson Mesquita de Faria a deixar de pagar os salários dos servidores públicos estaduais. Digo deixar de pagar porque o atraso prolongado de pagamento salarial e a falta dele são na prática quase a mesma coisa.

Nem mesmo o apoio do governador Robinson Mesquita de Faria e de seu filho deputado federal Fábio Faria (eleito pelo Rio Grande do Norte mas com presença constante em São Paulo) ao golpe de Estado que levou Michel Temer ao poder central foi capaz de sensibilizar o presidente não-eleito a socorrer o pobre Rio Grande do Norte com aquela prometida ajuda de seiscentos milhões de reais. O dinheiro não veio, mas isso também não pode servir de atenuante da culpa de Robinson pela situação caótica em que se encontra o Estado potiguar.

O problema do atraso ou da falta de pagamento de salários dos servidores estaduais é o mais grave porque atinge fundamentalmente a sobrevivência de milhares de servidores e de seus familiares. Quando não há pagamento de salário para quem trabalha, são as necessidades mais básicas de qualquer ser humano que deixam de ser atendidas, inclusive a de alimentação. Servidor sem salário é servidor sem comida, sem condições mínimas de sobrevivência.

Até pouco tempo, porém, pouco se falava abertamente no assunto, embora o problema atingisse praticamente todos os servidores públicos do Rio Grande do Norte, ativos e inativos, da Administração Direta e da Administração Indireta, e embora vários segmentos de servidores públicos já realizassem movimentos grevistas.

No entanto, outro fato fez o assunto ganhar a notoriedade que sua importância reclama. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militares instituíram a “Operação Segurança com segurança” e, alegando falta de condições de trabalho – verdadeira, que se diga! -, aquartelaram-se, não saíram mais às ruas. A Polícia Civil, de seu turno, entrou no compasso da “Operação Padrão”, e, sob o mesmo argumento da falta de condições de trabalho – fatídico, por sinal – reduziu a sua atividade, ou seu contingente em atividade.

Em Natal, na chamada Grande Natal e em Mossoró, principalmente, o pessoal do outro lado da lei aproveitou o momento para intensificar suas atividades delitivas. O Estado, literalmente, transformou-se numa terra sem lei, sem dono, sem autoridade.

Foi preciso uma paralisação orquestrada das forças de segurança pública para se enxergar o tamanho do problema. Foi necessário um movimento dessa envergadura para se compreender que trabalhador não vive sem salário.

O movimento também serviu para que se atente para outra realidade: saúde, educação, assistência social e outras políticas públicas são essenciais, mas segurança pública é ainda mais fundamental, porque há muitos séculos a humanidade (ou a maior parte dela) se desacostumou a viver em meio à barbárie. Por mais desumanos que tenhamos nos tornado, precisamos que o braço firme do Estado delimite nossas ações e também nos proteja.

Nesse cenário de falta absoluta de segurança, a violência saiu dos grotões e já atinge aquela camada mais alta da sociedade. Deputados, prefeitos, desembargador e outros distintos cidadãos, além de grandes empresas, têm sido alvo da ação de meliantes. O terror, parece, chegou para todos. Assim como a Polícia, estamos todos aquartelados em nossas residências, reféns do medo e da irresponsabilidade de um governo que começou sem prumo e caminhará sem prumo até o final.

E aqui faço, sem ter sido solicitado, uma defesa dos agentes de segurança pública que, mesmo deixando a sociedade potiguar entregue à própria sorte, responderam à ação desastrosa e desrespeitosa do governo de Robinson Mesquita de Faria com uma atitude tão extrema. Quando o trabalhador já não consegue sobreviver com dignidade, ou ele abaixa a cabeça e espera a morte chegar, ou adota uma medida extremada para reivindicar seus direitos. Foi o caso!

Infelizmente, porém, toda a problemática que envolve negativamente o povo norte-rio-grandense parece ainda não ser suficiente para que se levantem, bradem e ajam aqueles que poderiam e deveriam fazê-lo.

Mesmo com a iniciativa privada sendo profundamente castigada, suas entidades representativas se mantêm inertes. Nada cobram, nada reivindicam. Manifestaram-se mais efusivamente a favor da Reforma Trabalhista do que diante da violência que seus associados e representados sofrem agora.

Mesmo diante de tudo isso, o que se vê aqui e ali são algumas notas de entidades que em verdade poderiam fazer mais.

Nossos deputados estaduais, a quem também cabe o controle das atividades do Poder Executivo, parece que ainda não entenderam a gravidade do problema. Assistem, passivos. Já não estaria na hora de se investigar minimamente o governo de Robinson Faria? Ou vamos apenas aceitar a afirmativa de que o dinheiro acabou? Pode ser que sim, mas custa investigar?

E, nós, o povo, maior prejudicado pela falta de políticas do senhor Robinson Mesquita de Faria, vamos continuar apenas sofrendo os efeitos maléficos de seu desastre administrativo, ou vamos às ruas protestar?

Olhamos ao lado, e vemos nossos vizinhos da Paraíba, do Ceará e do Maranhão em situações bem melhores. Nesses Estados, os servidores recebem em dia e os serviços públicos funcionam dentro de uma normalidade bem razoável. Na área de segurança pública, então, Paraíba e Ceará estão há anos-luz melhores que nós da terra dos potiguaras.

Do jeito que vai, o pior dos cenários só seria alcançado se o governador Robinson Faria, campeão em troca de secretários e auxiliares, trouxesse para junto de si a ex-prefeita de Natal, Micarla de Sousa.

No mais, resta-nos rezar e pedir a proteção de Deus, porque, a depender de ações do senhor Robinson Mesquita de Faria, estamos num beco sem saída.

Alcimar Antônio de Souza