De caos e de dignidade
Mais uma vez o Rio
Grande do Norte é destaque na grande imprensa do País, inclusive com muito
tempo nos jornais das principais redes de televisão. E mais uma vez o
destaque nacional se dá por fatos negativos. Da última vez que isso aconteceu,
o motivo para tanta aparição na grande mídia foi a crise no sistema prisional
potiguar. Agora, a alarmante onda de violência que castiga o povo potiguar o
faz voltar ao cenário nacional do jornalismo.
A incompetência
singular da gestão do governador Robinson Mesquita de Faria levou o Estado,
literalmente, ao caos, à desordem, à barbárie. Logo ele, que durante a sua
campanha eleitoral fez duas afirmativas que, dentre outras, ficaram registradas
na mente do povo e nos arquivos de mídia: que seria o “governador da segurança”
e que no Estado existiam recursos financeiros suficientes, mas o que existia era
falta de gestão.
Fazia tempo que não se
via um governante potiguar que conseguisse piorar e até paralisar todos os
serviços públicos de responsabilidade da Administração Estadual. A
cada final de mandato de outros governadores, imaginava-se que o pior havia
passado. Mas Robinson nos fez ver, de novo, que não há nada muito ruim que não
possa ser piorado.
Não é demais lembrar
que as repartições públicas funcionam sem telefonia fixa, pois as linhas foram
bloqueadas porque o Estado, gerido pelo senhor Robinson Mesquita de Faria, não
pagou as contas à prestadora do serviço. Nesse contexto, as unidades de saúde
do Estado, que já não funcionavam a contento, tiveram que funcionar também sem
o serviço de telefonia fixa. E então se imagine uma secretaria de Saúde de
algum Município tentando fazer uma regulação de atendimento para alguma unidade
de saúde do Estado credenciada pelo Sistema Único de Saúde – SUS: um absurdo!
O mais grave, porém,
foi a falta de gestão que levou a administração de Robinson Mesquita de Faria a
deixar de pagar os salários dos servidores públicos estaduais. Digo deixar de
pagar porque o atraso prolongado de pagamento salarial e a falta dele são na
prática quase a mesma coisa.
Nem mesmo o apoio do
governador Robinson Mesquita de Faria e de seu filho deputado federal Fábio
Faria (eleito pelo Rio Grande do Norte mas com presença constante em São Paulo)
ao golpe de Estado que levou Michel Temer ao poder central foi capaz de sensibilizar
o presidente não-eleito a socorrer o pobre Rio Grande do Norte com aquela
prometida ajuda de seiscentos milhões de reais. O dinheiro não veio, mas isso
também não pode servir de atenuante da culpa de Robinson pela situação caótica
em que se encontra o Estado potiguar.
O problema do atraso ou
da falta de pagamento de salários dos servidores estaduais é o mais grave
porque atinge fundamentalmente a sobrevivência de milhares de servidores e de
seus familiares. Quando não há pagamento de salário para quem trabalha, são as
necessidades mais básicas de qualquer ser humano que deixam de ser atendidas,
inclusive a de alimentação. Servidor sem salário é servidor sem comida, sem
condições mínimas de sobrevivência.
Até pouco tempo, porém,
pouco se falava abertamente no assunto, embora o problema atingisse
praticamente todos os servidores públicos do Rio Grande do Norte, ativos e
inativos, da Administração Direta e da Administração Indireta, e embora vários
segmentos de servidores públicos já realizassem movimentos grevistas.
No entanto, outro fato
fez o assunto ganhar a notoriedade que sua importância reclama. A Polícia
Militar e o Corpo de Bombeiros Militares instituíram a “Operação Segurança com
segurança” e, alegando falta de condições de trabalho – verdadeira, que se diga!
-, aquartelaram-se, não saíram mais às ruas. A Polícia Civil, de seu turno,
entrou no compasso da “Operação Padrão”, e, sob o mesmo argumento da falta de
condições de trabalho – fatídico, por sinal – reduziu a sua atividade, ou seu
contingente em atividade.
Em Natal, na chamada
Grande Natal e em Mossoró, principalmente, o pessoal do outro lado da lei
aproveitou o momento para intensificar suas atividades delitivas. O Estado,
literalmente, transformou-se numa terra sem lei, sem dono, sem autoridade.
Foi preciso uma
paralisação orquestrada das forças de segurança pública para se enxergar o
tamanho do problema. Foi necessário um movimento dessa envergadura para se
compreender que trabalhador não vive sem salário.
O movimento também
serviu para que se atente para outra realidade: saúde, educação, assistência
social e outras políticas públicas são essenciais, mas segurança pública é
ainda mais fundamental, porque há muitos séculos a humanidade (ou a maior parte
dela) se desacostumou a viver em meio à barbárie. Por mais desumanos que
tenhamos nos tornado, precisamos que o braço firme do Estado delimite nossas
ações e também nos proteja.
Nesse cenário de falta
absoluta de segurança, a violência saiu dos grotões e já atinge aquela camada
mais alta da sociedade. Deputados, prefeitos, desembargador e outros distintos
cidadãos, além de grandes empresas, têm sido alvo da ação de meliantes. O
terror, parece, chegou para todos. Assim como a Polícia, estamos todos
aquartelados em nossas residências, reféns do medo e da irresponsabilidade de
um governo que começou sem prumo e caminhará sem prumo até o final.
E aqui faço, sem ter
sido solicitado, uma defesa dos agentes de segurança pública que, mesmo
deixando a sociedade potiguar entregue à própria sorte, responderam à ação
desastrosa e desrespeitosa do governo de Robinson Mesquita de Faria com uma
atitude tão extrema. Quando o trabalhador já não consegue sobreviver com
dignidade, ou ele abaixa a cabeça e espera a morte chegar, ou adota uma medida
extremada para reivindicar seus direitos. Foi o caso!
Infelizmente, porém,
toda a problemática que envolve negativamente o povo norte-rio-grandense parece
ainda não ser suficiente para que se levantem, bradem e ajam aqueles que
poderiam e deveriam fazê-lo.
Mesmo com a iniciativa
privada sendo profundamente castigada, suas entidades representativas se mantêm
inertes. Nada cobram, nada reivindicam. Manifestaram-se mais efusivamente a
favor da Reforma Trabalhista do que diante da violência que seus associados e
representados sofrem agora.
Mesmo diante de tudo
isso, o que se vê aqui e ali são algumas notas de entidades que em verdade
poderiam fazer mais.
Nossos deputados
estaduais, a quem também cabe o controle das atividades do Poder Executivo,
parece que ainda não entenderam a gravidade do problema. Assistem, passivos. Já
não estaria na hora de se investigar minimamente o governo de Robinson Faria?
Ou vamos apenas aceitar a afirmativa de que o dinheiro acabou? Pode ser que
sim, mas custa investigar?
E, nós, o povo, maior
prejudicado pela falta de políticas do senhor Robinson Mesquita de Faria, vamos
continuar apenas sofrendo os efeitos maléficos de seu desastre administrativo,
ou vamos às ruas protestar?
Olhamos ao lado, e
vemos nossos vizinhos da Paraíba, do Ceará e do Maranhão em situações bem
melhores. Nesses Estados, os servidores recebem em dia e os serviços públicos
funcionam dentro de uma normalidade bem razoável. Na área de segurança pública,
então, Paraíba e Ceará estão há anos-luz melhores que nós da terra dos
potiguaras.
Do jeito que vai, o
pior dos cenários só seria alcançado se o governador Robinson Faria, campeão em
troca de secretários e auxiliares, trouxesse para junto de si a ex-prefeita de
Natal, Micarla de Sousa.
No mais, resta-nos
rezar e pedir a proteção de Deus, porque, a depender de ações do senhor
Robinson Mesquita de Faria, estamos num beco sem saída.
Alcimar Antônio de
Souza