sábado, 20 de janeiro de 2018

Futebol

Encantos e desencantos

Estimulado por amigos, ainda pequeno passei a torcer pelo Clube de Regatas Vasco da Gama. Numa época de pouca tecnologia a serviço da comunicação social e de muita miséria pelo Nordeste brasileiro, cresci ouvindo os jogos do Vasco pelo rádio, e apenas vez por outra tinha o prazer de ver o time da cruz de malta na televisão, que até muitos anos da minha vida era a de algum vizinho ou de algum conhecido, que financeiramente era mais abastardo.

No dia seguinte ao de cada rodada do Campeonato de Futebol do Rio de Janeiro, ou do Campeonato Brasileiro, ou de outra competição da qual o Vasco estivesse participando, eu ouvia logo cedo a resenha esportiva da Rádio Rural, apresentada dentro de um jornal diário, e perto das 13 horas ainda corria para alguma residência próxima para assistir a um conhecido programa esportivo, no intuito de novamente saber as notícias do futebol e, de modo particular, do meu Vasco.

Cultivei o hábito ao longo da vida. Sempre que posso, vejo as partidas do Vasco pela televisão e ainda acompanho de perto o noticiário em torno dele.

Em casa, quando infantil, meu tio Severino costumava me levar para assistir a partidas do futebol amador, pois ele, Teixeirinha e meu tio-avô Dedé (ou Bode Velho) eram alguns dos que conduziam com muita dificuldade mas com muito amor o futebol amador em Messias Targino. O problema era que ele era torcedor do Corinthians e no Rio de Janeiro esboçava um apreço pelo Botafogo. Mas, até por profundo respeito a ele, nunca sequer discutimos por isso.

Para um torcedor apaixonado, a melhor música para os ouvidos é o hino do seu clube de coração bradado após cada conquista. Foi assim, por exemplo, em 1982, quando o Vasco derrotou o Flamengo por 1 a zero num Maracanã abarrotado de gente, na final do Campeonato de Futebol do Rio de Janeiro. O gol foi de Marquinhos, de cabeça, aos três minutos do segundo tempo, após cobrança de escanteio, em antecipação ao excelente goleiro rubro-negro Raul Plasma. O treinador do Vasco era Antônio Lopes.

Em 1989, com gol de Sorato na partida final, o Vasco conquistou o seu segundo Campeonato Brasileiro. O primeiro título nacional havia sido ganho em 1974, quando eu só tinha dois anos de idade e não entendia nada de futebol.

Também assisti àquela sequência histórica de conquistas do Gigante da Colina, que foi campeão brasileiro de 1997 (num ano espetacular do goleiro Carlos Germano e do atacante Edmundo), campeão do Rio de Janeiro de 1998 e campeão da Taça Libertadores da América de 1998 (ano de atuações memoráveis de Juninho Pernambucano). O técnico de tantas conquistas era Antônio Lopes, que para os dias de hoje estaria ultrapassado, segundo muitos.

No ano seguinte, 1999, o Vasco estava novamente no lugar mais alto de uma competição, conquistando mais uma vez o Torneio Rio-São Paulo.

E logo no ano seguinte, 2000, o Vasco era novamente campeão brasileiro, pela quarta vez, desta feita sobre o São Caetano.

Também chorei de alegria quando o Vasco, após terminar o primeiro tempo perdendo por 3 a zero para o Palmeiras, virou o jogo no segundo tempo e foi campeão da Copa Mercosul, pelo inacreditável escore de 4 a 3. Romário foi o condutor do Gigante naquela noite épica do Clube de Regatas Vasco da Gama.

Em 2011, chorei disfarçadamente após a conquista da Copa do Brasil pelo Vasco. Disfarcei porque ao meu lado estava o meu filho mais velho, João Vítor, vascaíno por livre escolha dele próprio.

Mas a paixão pelo Vasco da Gama não vem apenas por seu futebol, que já foi tão vistoso em tempos atrás. A sua história também me prende à sua bandeira. Fundado em 21 de agosto de 1989, o Vasco da Gama despertou para o futebol anos à frente, numa época que o esporte bretão era, no Brasil, praticado apenas pelos filhos da elite econômica. Se os demais clubes do Rio de Janeiro estavam – como estão – em áreas consideradas mais nobres, o Vasco estava lá do outro lado da cidade carioca, em meio ao povão.

E foi nesse contexto que o Vasco da Gama foi o primeiro clube do Rio de Janeiro – e provavelmente do Brasil – a aceitar em seus quadros pessoas muito pobres e, principalmente, negros.

A construção de São Januário é outro marco belíssimo na história do Vasco. Como os outros clubes do Rio de Janeiro não queriam que o Gigante da Colina participasse do campeonato estadual de futebol, mesmo tendo conquistado o acesso dentro de campo, inseriram no regulamento do torneio a regra segundo a qual os times deveriam ter seus próprios estádios, para mandarem seus jogos, sob pena de exclusão. Foi então que a grande massa vascaína se uniu e, num grande mutirão, com muitas doações e com muito trabalho, construiu o Estádio de São Januário, que por muitos anos foi o maior do Brasil e até da América do Sul.

De jogadores que vestiram a camisa do clube e foram ícones no Vasco e no futebol como um todo, temos vários. Lembro-me no momento de Roberto Dinamite (pra mim, o melhor de todos), Edmundo, Romário, Pedrinho, Felipe, Geovane, Valdir Bigode, Carlos Germano, Dênner (mesmo que de curta passagem pela vida, pois morreu muito cedo), e muitos outros que se encontram registrados para sempre na história do Clube.

No entanto, desde os primeiros anos do século 21, a grande torcida do Vasco anda triste. Afora algumas poucas conquistas obtidas dentro das quatro linhas nos últimos anos, temos assistido a uma sequência interminável de péssimas administrações do clube, com resultados que se refletem diretamente no rendimento esportivo. Prova disso é que num curto intervalo de tempo o Clube teve que disputar três séries B do Campeonato Brasileiro de Futebol (segundo divisão do torneio nacional), além de ficar de fora, por anos, de competições internacionais.

Infelizmente, desde que o grupo político de Eurico Miranda chegou ao poder central do Vasco da Gama, o clube só agoniza. Arrogância, prepotência, pensamento arcaico, desrespeito à torcida, desrespeito à imprensa, falta de transparência e truculência são algumas das péssimas qualidades de Eurico e de sua turma.

Foram cerca de quinze anos de gestão quase ditatorial de Eurico Miranda, com intervalo para um breve período administrativo de Roberto Dinamite, que, se como jogador havia sido certamente o maior talento vascaíno, como gestor esportivo foi um fiasco.

Agora, a torcida como um todo esperava uma mudança, mesmo sabendo da injustiça que marca o processo eleitoral do Vasco da Gama, um amontoado de normas antigas e antidemocráticas criadas lá atrás, quando talvez lá atrás, no tempo, até se justificassem, mas que não cabem mais em dias atuais.

Em novembro do ano passado, os sócios do Vasco da Gama elegeram a chapa que tinha Júlio Brant como nome para a presidência, do qual Alexandre Campello seria o seu vice-presidente geral.

Por causa de fraudes eleitorais provadas na Justiça e que só beneficiavam o grupo – adivinhem – de Eurico Miranda, o processo eleitoral do Vasco da Gama virou um caso de polícia e quase não teve fim.

Mas, finalmente, neste dia 19 de janeiro de 2018, por determinação judicial, o Conselho Deliberativo do Clube, formado por 150 conselheiros eleitos no “primeiro turno” e 150 conselheiros natos (de cadeira cativa), elegeu o presidente da instituição.

Vencedor num primeiro momento, Júlio Brant foi traído por seu companheiro de campanha de primeiro turno, Alexandre Campello, e foi derrotado por este próprio, votando o Conselho Deliberativo, por maioria, contra a expressa vontade dos sócios e da imensa torcida vascaína.

Campello chegou sozinho à vitória? Não, de última hora se aliou ao grupo de Eurico Miranda e Euriquinho Miranda, pai e filho, mantendo no Clube a continuidade de uma gestão que só o destruiu, que só lhe fez mal.

A torcida ficou decepcionada, frustrada, irresignada, pois sabe que pelo menos os três próximos anos do Vasco da Gama serão de atraso, conservadorismo, mais do mesmo.

O golpe eleitoral sofrido pela democracia no Vasco me fez lembrar outro, também “legalizado”. E então entendi que, também no futebol, a face podre da política continua em alta.

Sei que, pelos anos vindouros, dificilmente ouvirei o hino do Vasco ao final das competições, como indicador de suas conquistas, que certamente não virão. Sei que nós, vascaínos, continuaremos a sofrer a chacota da boa rivalidade de nossos adversários, que administrativamente estão melhores do que nós, do Vasco.

Mas continuarei aqui, como sempre estive, torcendo pelo Vasco. Ganhando ou perdendo, continuarei a vestir a camisa da cruz-de-malta. Já não terei o mesmo entusiasmo de outrora, mas como torcedor sou como aquele jovem apaixonado pela mocinha: uma simples conquista, talvez, já me traga de volta.

Alcimar Antônio de Souza.

Violência

Mossoró já atinge 14 homicídios em 18 dias
Em 18 dias de 2018, Mossoró já contabiliza 14 homicídios.
Quase um por dia.
Ano passado, a conta fechou em 249.
Recorde absoluto.
Superou 2017, quando aconteceram 217 homicídios.
Texto e fonte: www.blogcarlossantos.com.br

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Reflexão

O tal respeito

Acredito em Deus, sou cristão católico e professo a minha fé perante a minha religião. Até reconheço que deveria fazê-lo melhor, com maior intensidade, mas todos os dias agradeço a Deus pelas muitas bênçãos que recebo, e diariamente peço-Lhe paz, saúde e felicidade para mim e para os meus. No entanto, respeito quem diz professar outra religião e quem até se diz ateu, agnóstico, descrente. Na verdade, até rezo silenciosamente por estes, lembrando-me sempre da parábola do pastor de ovelhas, que ficou muito feliz ao encontrar o animal perdido, cuja essência consiste no ensinamento de Jesus Cristo de que se deve buscar sempre aquela ovelha que está fora do rebanho. Enfim, respeito evangélicos, cristãos ortodoxos, cristãos anglicanos, islâmicos, ateus, etc.

Sou heterossexual e apaixonado por minha esposa. Porém, respeito qualquer opção de sexualidade de outrem, por entender que não é a sexualidade de alguém que irá definir o seu caráter. Aliás, a pessoa sem-caráter ou de mau-caráter pode ser homem, mulher, heterossexual, bissexual, homossexual, ou de outro gênero. Não concordo com o exibicionismo que se possa ter ou fazer em nome da sexualidade, seja de qual for o gênero ou opção sexual. No mais, respeito.

Etnicamente sou negro, graças a Deus, e tenho grande orgulho disso. A menor exibição ao sol até me rendeu uma cor meio parda, mas continuo negro, de sangue e de alma. Se meu bisavô Manoel Fernandes Jales era branco, a genética de minha bisavó Maria Cândida de Almeida preponderou em grande parte da descendência de nós do Junco de Cima. Meus pais não eram brancos. E, por ser negro, sofro com a pequenez daqueles que ainda acham que a cor da pele é critério diferencial, que ela determina quem é melhor ou quem é pior. Ainda sofro com o pensamento retrógrado de quem ainda escuta o chicotear na pele do negro no pelourinho armado em praça pública ou nos arredores da senzala ou da casa grande. Ainda me dói ver corriqueiramente serem noticiados na grande imprensa casos de ofensas raciais. Enfim, ainda falta, a nós negros, o devido respeito.

Sou trabalhador, graças a Deus. Aliás, venho de família humilde e de trabalhadores e na minha célula familiar tenho uma esposa que trabalha, e muito. Orgulhosamente podemos dizer que nosso pão, abençoado por Deus, é suado. E respeito toda e qualquer forma de trabalho honesto, que garanta ao seu executor não apenas o alimento, mas a própria dignidade.

Casei-me pela segunda vez, e graças a Deus tenho quatro lindos filhos, sendo três biológicos e uma decorrente da afetividade, algo hoje em dia até reconhecido pelo Poder Judiciário como elemento de constituição de parentesco.

Irrestritamente, procurei educar esses filhos com base nos valores sociais, morais e religiosos que acreditamos, ensinando sempre o que é correto, para que ao longo da vida possam diferenciar e se afastar do que é errado. Nessa educação, está inserido o respeito que se deve ter na vida em sociedade.

Vivo por eles, para eles, pensando neles, sempre agradecendo a Deus pela família que Ele me permitiu constituir. De todos os desrespeitos que podem me atingir, mais me dói aquele que vier a atingir a minha família.

E digo isso porque, nessa vida, parafraseando um velho amigo poeta e escritor dos bons, não me sinto melhor nem pior do que ninguém, mas exatamente igual.

Infelizmente, porém, ainda há aquelas pessoas que se acham melhores ou maiores do que outras. Para disfarçar, inventam subterfúgios, mas no fundo se comportam com indiferença por se acharem melhores. Outros nem disfarçam, e simplesmente se acham melhores que seus pares sociais.

Enfim, está faltando o tal respeito.

Dedico esses pensamentos vagos aos meus filhos, por quem tenho, além do amor, enorme respeito, para que ao longo da vida também se comportem com ele, o respeito, sempre na obediência ao Senhor Nosso Deus. Aliás, o respeito é próprio de quem ama, pois não se admite amor sem que haja respeito.

Em nome desse respeito, nem pisem, nem se deixem pisar; nem se sintam melhores do que ninguém, nem também menores do que ninguém, mas exatamente iguais.

De qualquer forma, perdoar é preciso, afinal, somos cristãos.

E que Deus nos abençoe!

Alcimar Antônio de Souza

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

"Justiça"

A próxima decisão
Por François Silvestre*
A próxima decisão da justiça, ouvidos todos os ministérios públicos, federal, estadual, de contas e de contos será proibir o governo de pagar os salários atrasados de quem ainda não recebeu sequer Novembro.
Venha o dinheiro de qualquer fonte, não poderá pagar.
Será uma decisão para assegurar recursos aos beneficiários dessas categorias, que “legalmente” recebem vencimentos acima do teto constitucional.
Somados todos os tipos de auxílios disponíveis no vernáculo da sabedoria.
Mas o que é um policial diante de um promotor? Nada. O que é um professor diante de um juiz? Nada. O que é um médico diante de um conselheiro de contas? Nada.
Uma coisa é o Brasil do primeiro mundo, com togas e salamaleques a desfrutarem férias em Paris e Nova York. Outra coisa é a ralé. Metida e ingrata, que não vê essa gente sofrida montando processos, fazendo julgamentos e audiências do vazio.
Suados com tanta roupa preta, que nem o ar condicionado evita o auxílio-refrigeração.
A ralé, que antigamente chamava-se povo, que se exploda.
E deixe o Brasil bacharelar-se com toda a pompa de um país do futuro. Mesmo sem futuro….
*O autor é escritor, Procurador aposentado do Estado do Rio Grande do Norte e ex-secretário de Estado na gestão da então governadora Wilma de Faria.
Fonte: www.blogcarlossantos.com.br