sábado, 8 de março de 2014

Aqui e lá

Além do Nordeste, o Sudeste sofre com a falta de chuvas

A seca tem sido o fenômeno natural que mais tem castigado o Nordeste do Brasil ao longo dos séculos.

Do Brasil-Colônia à República, passando pelo Império, pouco se fez para o combate aos muitos efeitos da estiagem. Apenas nas últimas décadas foi que as autoridades começaram a colocar em prática algumas medidas que efetivamente combatem os efeitos danosos da falta de chuvas na região. Mas ainda é pouco. É preciso fazer mais.

Por causa da seca, muitos nordestinos migraram para outras regiões do País, principalmente para o Sudeste (com destaque para São Paulo) e também para o Centro-Oeste (com destaque para Brasília).

"Retirante", "pau-de-arara", "cabeça chata" e "paraíba" têm sido alguns dos apelidos jocosos dados aos nordestinos pelos habitantes do Sudeste e do Sul do País, principalmente.

Na internet, ainda há quem faça piada de mau gosto com o sofrimento do povo nordestino, que, porém, nunca se deixou abater e tem enfrentado esse problema com a determinação encontrada na definição que lhe deu o escritor Euclides da Cunha, na obra "Os Sertões", de que "o sertanejo é, antes de tudo, um forte".

Longe de haver a retribuição por parte do povo nordestino da jocosidade e da gozação que lhe foram feitas ao longo das décadas por moradores de outras regiões do País, fato é que, agora, alguns Estados do Sudeste e do chamado Sul maravilha sentiram na pele os efeitos drásticos da falta de chuvas, a começar pela elevação da temperatura.

Em polvorosa, a imprensa nacional passou semanas e mais semanas dos meses de janeiro e fevereiro dando exagerada ênfase à estiagem e à elevação da temperatura em Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.

O "Rio quarenta graus", cantando e decantado em conhecida canção da música popular brasileira, deixou de chamar a atenção pela beleza da canção em si. Além do calor, a indicação de racionamento de água, em decorrência da baixa quantidade de água nos reservatórios daquelas regiões, passou a preocupar.

Na maioria dos Estados das regiões Sul e Sudeste voltou a chover e a temperatura diminuiu, mas em São Paulo as chuvas caídas, além de poucas, ainda não foram derramadas em locais que a levassem aos principais reservatórios do Estado.

O sistema Cantareira, que abastece quase três (das quatro) regiões da cidade de São Paulo e ainda alguns Municípios metropolitanos, como Osasco e Guarulhos, está à beira do colapso, com pouco mais de 15% (quinze por cento) da sua capacidade de armazenamento.

Com isso, o racionamento de água no Estado de São Paulo, ainda não admitido oficialmente pela companhia de águas do Estado, já é dado como certo, e, na prática, ele já vem acontecendo, pois são muitas as queixas de moradores de que o precioso líquido já não chega às torneiras dos paulistas e paulistanos com a mesma frequência de antes. Do contrário, em alguns bairros a água passa dias sem chegar.

No Rio de Janeiro, a falta d´água em alguns bairros da Cidade Maravilhosa também foi notícia da grande imprensa nesse início de ano.

Agora, portanto, seca e racionamento de água não são mais problemas apenas do povo nordestino.

A diferença é que, embora a seca no Nordeste brasileiro seja secular, a mídia nacional nunca lhe deu a mesma importância. Mas, quando passam dois ou três meses sem chover em algum Estado do Sul ou do Sudeste do País, então o assunto passa a compor a pauta do noticiário nacional com enorme destaque.

Se naquelas regiões não se aguenta viver com a falta de chuvas de alguns meses, no Nordeste o povo chega a conviver com a falta de chuvas de alguns anos. Infelizmente.

Em verdade, bom mesmo é torcer para que São Pedro abra as torneiras de cima para todo o País, com a regularidade necessária.