quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Reflexão de Natal

Mais Jesus, menos Papai Noel

Chegado o período de Natal, mais uma vez as crianças se fartam de ver a figura conhecida do Papai Noel, que toma conta da publicidade veiculada na televisão, nos jornais e nas mídias eletrônicas; que enche os espaços nos centros comerciais e mora de vez na mente da meninada, que espera, com avidez, pela presença do bom velhinho na Noite de Natal, pois certamente ele trará algum presente, segundo imaginam.

Nada tenho contra o velho Noel, mais lenda do que verdade. No entanto, abomino por completo a versão capitalista que lhe dão, transformando-lhe num excelente vendedor de produtos diversos.

Se ele, o Papai Noel, poderia simbolizar apenas bons valores, e desse modo servir de boa referência para os pequeninos, infelizmente a ganância humana o transformou num instrumento de captação de clientes e de aumento do lucro.

A presença do Papai Noel no Natal, na forma que nos é passada pelos donos do capital, choca-se frontalmente com o verdadeiro espírito natalino; vai de encontro à grande Festa do Natal, que é a festa do Nascimento do Menino Jesus.

O nascimento de Jesus Cristo, por si só, já nos aponta para a necessidade de termos humildade, simplicidade e desapego a bens materiais, afinal, o Filho de Deus, apesar dessa condição suprema, nasceu numa manjedoura, em meio a animais, nos arredores de Belém, a cidade de Davi, para onde tinham ido Maria e José em razão de um recenseamento ordenado pelo Império Romano.

A vida de Jesus Cristo, dono da festa desse dia 25 de dezembro, foi de ensinamentos que levam ao Reino de Deus; foi de exemplo vivo de doação, de gestos de humanidade, de amor ao próximo, de perdão; foi de profunda reflexão sobre valores que realmente devem nortear uma sociedade que se diz cristã.

No Papai Noel, ao contrário, enxergo apenas um anúncio publicitário de alguém que quer me vender algum produto. Seu luxuoso trenó contrasta com o jumento que transportou Jesus Cristo em dois momentos importantíssimos da sua vida: na sua fuga de Belém, depois do decreto do Império Romano de serem mortas as crianças recém-nascidas; e na sua entrada triunfal em Jerusalém, na Festa da Páscoa, na semana em que Ele, Jesus, já sabia que seria traído por Judas e seria morto.

A veste pomposa do bom velhinho em nada se parece com os trajes humildes que vestiram Jesus Cristo em seu nascimento e em sua caminhada de pregações.

Os propósitos do Papai Noel, enfim, divergem diametralmente daqueles que trouxeram Jesus Cristo ao mundo e que motivaram a sua pregação entre nós.

Quando, um dia, Papai Noel deixar de servir aos desejos da indústria e do comércio e passar a pregar bons costumes e dignos valores, certamente mudarei a minha opinião a seu respeito.

Até lá, porém, vou continuar dizendo que, no Natal, precisamos de mais Jesus Cristo e menos Papai Noel.

A todos, Feliz Natal!

Alcimar Antônio de Souza

Poesia

Carta a Papai Noé

Autor: Luiz Campos

Seu moço eu fui um garoto
Infeliz na minha infança
Qui soube que fui criança
Mas pela boca dos outo.
Só brinquei cum gafanhoto
Qui achava nos tabuleiro
Debaixo dos juazeiro
Com minhas vaca de osso
Essas catrevage, sêo moço,
Qui se arranja sem dinheiro.

Quando via um gurizin
Brincando de velocipe
De caminhão e de jipe
Bola, revólver e carrin
Sentia dentro de mim
Desgosto qui dava medo
Ficava chupando o dedo
Chorando o resto do dia
Só pruque eu num pudia
Pegar naqueles brinquedo.

Mas preguntei uma vez
A uns fio dum dotô
Diga, fazendo um favô,
Quem dá isso prá vocês?
Mim respondeu logo uns três
Isso aqui é o presente
Qui a gente é inocente
Vai drumi às vezes nem nota
Aí papai noé bota
Perto do berço da gente.

Fiquei naquilo pensando
Inté o natá chegá
E na noite de natá
Eu fui drumi mim lembrando
Acordei fiquei caçando
Por onde eu tava deitado
Seu moço eu fui enganado
Que de presente o que tinha
Era de mijo uma pocinha
Qui eu mesmo tinha botado.

Saí cum a bixiga preta
Caçando os amigo meu
Quando eles mostraram a eu
Caminhão, carro e carreta,
Bola, revólver, corneta
E trem elétrico inté.
Boneca, máquina de pé,
Mas num brinquei, só fiz vê,
E resolvi escrevê
Uma carta a papai noé.

Papai noé é pecado
Os outro se maltratá
Mas eu vou le recramá
Um troço qui tá errado
Qui aos fio de deputado
Você dá tanto carrin
Mas você é muito ruim
Qui lá em casa num vai
Por certo num é meu pai
Qui num se lembra de mim.

Já tô certo qui você
Só balança o povo seu
E um pobe qui nem eu
Você vê, faz qui num vê
E se você vê, por que
Na minha casa num vem?
O rancho qui a gente tem
É pequeno mas lhe cabe
Será qui você não sabe
Qui pobe é gente também?

Você de roupa incarnada
Colorida, bonitinha,
Nunca reparou qui a minha
Já tá toda remendada
Seja mais meu camarada
Prêu num chamá-lo de ruim
Para o ano faça assim:
Dê menos aos fio dos rico
De cada um tire um tico
E traga um presente pra mim.

Meu endereço eu vou dá
Da casa que moro nela
Moro naquela favela
Qui você nunca foi lá
Mas quando você chegá
Qui avistá uma paioça
Cuberta cum lona grossa
E dois buracão bem grande
E uma porta veia de frande
Pode batê qui é nossa.

O autor, já falecido, foi poeta-repentista e cordelista.