Carta ao
Governador da Segurança
Senhor Governador do Estado do Rio Grande do
Norte, Robinson Faria,
Como faz algum tempo que Vossa Excelência
esteve em Patu (não sei se veio à cidade após a última campanha eleitoral),
precisamos lhe contar alguns fatos, lastimáveis, mas que certamente lhe
interessam, dada a sua condição de gestor maior desse Estado.
Infelizmente, perdemos de vez a nossa paz e a nossa
tranquilidade. Nos últimos dias, a falta de segurança pública por essas bandas
ultrapassou todos os limites, se é que ainda estes existiam. Nesses últimos
dias a cidade se deparou com tentativa de homicídio, furto vultoso a uma
residência de pessoas bastante conhecidas e pacatas (trabalhadoras, diga-se),
assalto com uso de violência a um comerciante (hoje já se fala em outro) e
outros assaltos popularmente conhecidos como "arrastões", além de um homicídio
ocorrido não necessariamente em Patu, mas nas suas proximidades (Rodovia BR
226, altura de Messias Targino) e com consequências drásticas e vítima fatal
nesta terra de Jesuíno Brilhante.
Também lhe informo, senhor Governador, que por aqui a cantiga
é antiga e uma só: falta efetivo, faltam condições de trabalho, etc etc etc. E
não é mentira de quem diz isso. Realmente, em termos de falta, estamos
sobrando.
Estou falando sobre Patu, senhor Governador, mas essa triste
realidade de absoluta falta de segurança se vê em praticamente todos os
Municípios que estão além da Reta Tabajara, principalmente esses da região
Oeste do Estado, geralmente os mais esquecidos, pois, na medida que se afasta
da Reta Tabajara, tudo vai ficando mais esquecido nesse Estado. Isso, a
propósito, não é exclusividade do vosso governo, pois todos os anteriores
agiram assim.
Mas, voltando ao nosso tema central dessa missiva, senhor
Governador, particularmente vos digo que autorizo que Vossa Excelência gaste
nosso dinheiro público para melhorar o serviço de segurança pública. Gaste,
gaste à vontade, consuma todo o orçamento destinado à segurança pública e, se
necessário, proceda ao remanejamento de verbas de outras áreas menos críticas
para a área da defesa social.
Pode deixar de lado essa moderação exagerada no uso dos
recursos da segurança pública. Não se faça de rogado, nem ache que vamos achar
ruim. Gaste tudo o que existir destinado à segurança pública. Invista em
agentes de segurança, compre viaturas, compre equipamentos, enfim, gaste até o
último centavo orçamentário dessa área de política pública.
Sugiro que desista dessa ideia absurda de trazer de volta às
ruas policiais militares da reserva que já deram sua valiosa parcela de
contribuição à sociedade. Com o devido respeito, esses PMs já estão cansados e
merecem esse descanso, pois já fizeram muito pela segurança pública desse
Estado. Faça concurso. Contrate policiais militares no quantitativo necessário
ou ao menos razoável para que se debele firmemente essa onda de violência que
nos massacra.
Faça também concurso para a Polícia Civil, pois, apenas para
continuar deixando Vossa Excelência a par do que ocorre por aqui (acho que seu
pessoal mais chegado não está lhe contando tudo), a Sétima Delegacia Regional
de Polícia Civil, com sede em Patu, atualmente responde por dez Delegacias (ou
dez Municípios) no total. Aí o senhor imagine se há como um Delegado de Polícia
Civil e uma equipe diminuta de policiais lotados na 7ª DRPC, por mais boa
vontade que tenham - e têm - realizarem um trabalho à altura do que reclama a
situação. Humanamente impossível.
Contrate mais servidores para o ITEP - Instituto
Técnico-Científico de Polícia e melhore sua estrutura como um todo, pois esse
Instituto é vital para que as investigações policiais sejam exitosas.
Contrate também mais agentes penitenciários, senhor
Governador. O quantitativo anunciado por Vossa Excelência ainda é pequeno
diante da realidade e da necessidade. Alem disso, se nas unidades prisionais
fossem mantidos apenas agentes penitenciários, que de fato são preparados para
essa lida, os policiais militares que nelas ainda trabalham, que são centenas -
alguém me falou de mais de seiscentos, mas não tenho esse número exato -,
poderiam voltar aos quartéis e, consequentemente, às ruas.
Por essas bandas, senhor Governador, a maioria dos Municípios
de pequeno e médio porte conta apenas com um, dois ou no máximo três policiais
militares de serviço por dia, com raras exceções.
A propósito, venha mais à região. Não apenas para, se quiser,
certificar-se do que agora vos falamos, mas também porque, quando Vossa
Excelência pisa por aqui, com seu estafe institucional, sentimos um pouco mais
aquela sensação quase esquecida de segurança que gostaríamos de ter todos os
dias. Nesses dias, de vossa visita, vemos mais agentes da segurança pública -
naturalmente isso ocorre, afinal, o senhor também precisa de segurança, não é?
-, e então nos sentimos um pouco menos à deriva da própria sorte.
Se Vossa Excelência disser que os recursos orçamentários são
poucos, insuficientes, que a crise sem-fim não permite mais investimentos, que
o Tribunal de Justiça ainda não passou todo aquele dinheiro prometido em sua
gestão passada, etc, etc., etc, então busque parcerias. Chame os prefeitos e
prefeitas, senhor Governador, e lhes proponha uma parceria firme, bem pensada,
tecnicamente eficiente, bem elaborada por sua área técnica, e com certeza os
Municípios lhe darão a mão, independentemente de cor partidária e apesar da
crise financeira que enfrentam, pois o que está em jogo é algo bem maior: é a
nossa paz, é a nossa tranquilidade, são as nossas próprias vidas.
Chame também à colaboração a sociedade civil, como OAB,
entidades de classe, CDL´s, e outros.
Não queira, jamais, transferir a esses outros a
responsabilidade maior, que é do Estado. Porém, diante de uma proposta clara de
um trabalho efetivo, todos se unirão e cada um irá contribuir com aquilo que
puder, na medida de suas disponibilidades.
Se o seu governo sair desse comodismo em que se encontra na
área de segurança pública, talvez eu reacenda a minha esperança de que dias
melhores virão e que, talvez, eu possa até chamá-lo de "Governador da
Segurança", como o senhor assim se anunciou nos palanques da última
campanha eleitoral estadual.
Como sertanejo matuto que sou, senhor Governador, vou
assinar, mesmo a mídia eletrônica já dizendo quem sou. Sou Alcimar, pai de
alguns meninos e meninas que Deus e a vida me deram, filho da catequista Maria
do Junco e do soldado de polícia José Antonio Filho, ambos de saudosa memória.
Sou bisneto de Manoel Fernandes Jales, o popular Sorinho, responsável maior
pela doação de terras para a edificação do projeto de Messias Targino de criar
aquele Município. Tenho raízes nas cidades de Messias Targino, Patu e ainda
Jaçanã, todas nesse Estado.
Mas lhe trago essa missiva não apenas em meu nome, mas em
nome de uma multidão de pessoas de bem da região Oeste do Rio Grande do Norte
que não suporta mais tanta violência e tanta falta de atitude.
Fique com Deus, senhor Governador. E que Ele nos proteja!
Alcimar Antônio de Souza