quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Reflexão

O tal respeito

Acredito em Deus, sou cristão católico e professo a minha fé perante a minha religião. Até reconheço que deveria fazê-lo melhor, com maior intensidade, mas todos os dias agradeço a Deus pelas muitas bênçãos que recebo, e diariamente peço-Lhe paz, saúde e felicidade para mim e para os meus. No entanto, respeito quem diz professar outra religião e quem até se diz ateu, agnóstico, descrente. Na verdade, até rezo silenciosamente por estes, lembrando-me sempre da parábola do pastor de ovelhas, que ficou muito feliz ao encontrar o animal perdido, cuja essência consiste no ensinamento de Jesus Cristo de que se deve buscar sempre aquela ovelha que está fora do rebanho. Enfim, respeito evangélicos, cristãos ortodoxos, cristãos anglicanos, islâmicos, ateus, etc.

Sou heterossexual e apaixonado por minha esposa. Porém, respeito qualquer opção de sexualidade de outrem, por entender que não é a sexualidade de alguém que irá definir o seu caráter. Aliás, a pessoa sem-caráter ou de mau-caráter pode ser homem, mulher, heterossexual, bissexual, homossexual, ou de outro gênero. Não concordo com o exibicionismo que se possa ter ou fazer em nome da sexualidade, seja de qual for o gênero ou opção sexual. No mais, respeito.

Etnicamente sou negro, graças a Deus, e tenho grande orgulho disso. A menor exibição ao sol até me rendeu uma cor meio parda, mas continuo negro, de sangue e de alma. Se meu bisavô Manoel Fernandes Jales era branco, a genética de minha bisavó Maria Cândida de Almeida preponderou em grande parte da descendência de nós do Junco de Cima. Meus pais não eram brancos. E, por ser negro, sofro com a pequenez daqueles que ainda acham que a cor da pele é critério diferencial, que ela determina quem é melhor ou quem é pior. Ainda sofro com o pensamento retrógrado de quem ainda escuta o chicotear na pele do negro no pelourinho armado em praça pública ou nos arredores da senzala ou da casa grande. Ainda me dói ver corriqueiramente serem noticiados na grande imprensa casos de ofensas raciais. Enfim, ainda falta, a nós negros, o devido respeito.

Sou trabalhador, graças a Deus. Aliás, venho de família humilde e de trabalhadores e na minha célula familiar tenho uma esposa que trabalha, e muito. Orgulhosamente podemos dizer que nosso pão, abençoado por Deus, é suado. E respeito toda e qualquer forma de trabalho honesto, que garanta ao seu executor não apenas o alimento, mas a própria dignidade.

Casei-me pela segunda vez, e graças a Deus tenho quatro lindos filhos, sendo três biológicos e uma decorrente da afetividade, algo hoje em dia até reconhecido pelo Poder Judiciário como elemento de constituição de parentesco.

Irrestritamente, procurei educar esses filhos com base nos valores sociais, morais e religiosos que acreditamos, ensinando sempre o que é correto, para que ao longo da vida possam diferenciar e se afastar do que é errado. Nessa educação, está inserido o respeito que se deve ter na vida em sociedade.

Vivo por eles, para eles, pensando neles, sempre agradecendo a Deus pela família que Ele me permitiu constituir. De todos os desrespeitos que podem me atingir, mais me dói aquele que vier a atingir a minha família.

E digo isso porque, nessa vida, parafraseando um velho amigo poeta e escritor dos bons, não me sinto melhor nem pior do que ninguém, mas exatamente igual.

Infelizmente, porém, ainda há aquelas pessoas que se acham melhores ou maiores do que outras. Para disfarçar, inventam subterfúgios, mas no fundo se comportam com indiferença por se acharem melhores. Outros nem disfarçam, e simplesmente se acham melhores que seus pares sociais.

Enfim, está faltando o tal respeito.

Dedico esses pensamentos vagos aos meus filhos, por quem tenho, além do amor, enorme respeito, para que ao longo da vida também se comportem com ele, o respeito, sempre na obediência ao Senhor Nosso Deus. Aliás, o respeito é próprio de quem ama, pois não se admite amor sem que haja respeito.

Em nome desse respeito, nem pisem, nem se deixem pisar; nem se sintam melhores do que ninguém, nem também menores do que ninguém, mas exatamente iguais.

De qualquer forma, perdoar é preciso, afinal, somos cristãos.

E que Deus nos abençoe!

Alcimar Antônio de Souza