sexta-feira, 7 de março de 2014

Opinião

O Dono do Paredão


Nonato Santos

O dono do paredão é um ser que estabeleceu, com o seu equipamento de som, uma relação pansexual, basta observar a quantidade de cerveja que consome, olhando exclusivamente para o seu paredão, enquanto executa todas as “dancinhas” e “pacinhos” que considera “sucesso”.

Sua filosofia de vida é incomodar o resto da humanidade com seu gosto musical, executado preferencialmente no limite máximo de seu volume de seu grande amor, o paredão.

Como possui menos de um neurônio não consegue distinguir a diferença entre natal, réveillon, carnaval, festas juninas e seu próprio aniversário; por isso, escuta sempre o mesmo repertório em qualquer época do ano.

Se ele tem namorada, não sei, mas isso não importa, ele tem um PAREDÃO e isso lhe basta.

Quando diminuir o volume de seu equipamento de som, respire fundo, porque o repertório que até então reverenciava “a cachaça”, “a rodadinha”, “a mãozinha pra cima” e “tire o pé do chão”, agora virá com “desce - desce”, “rebola a bundinha”, “enfinca”, “ran – ran – ran”, “leko-leko” e muitas outras “coisas” pra “baixo” e “pru ladinho”.

Os seres humanos do sexo feminino, para o dono do paredão, são “cachorras”, “ordinárias”, “vadias”. Pelo menos é o que dizem as letras berradas pelos vocalistas das “bandas” que ouvem. “As “rimas perfeitas obedecem, invariavelmente, as seguintes combinações: “ao com Chão”; “Ê com você”; “vai com vai”;” sexta feira com bagaceira” e demais rimas que combinem com desce.

E se você acha que a rés do chão é o limite, não vos enganeis a “coisa” ainda pode descer mais do que imagina a nossa vã inteligência.

Tenho observado também, que o paredão necessita de alguns comandos especiais para funcionar bem. Antes de iniciar é preciso gritar a senha: “Solte o som fí de rapariga” e, entre uma faixa e outra, tem que ter uma voz cavernosa dizendo “mais um sucesso...”.

Soxtô.

Fico besta como ainda tenho o que aprender.


Nonato Santos é ator, diretor e teatrólogo.
Fonte: página do facebook de Niécio Roldão