domingo, 6 de setembro de 2015

Humanidade

Tecnologia e barbárie caminham juntas

Estamos no século XXI mas há momentos em que nem parecemos ter evoluído da época das cavernas para o mundo atual.

Da época do homem sapiens, passando pela descoberta do fogo, pela escuridão histórica do feudalismo, até esse novo milênio, de avanços tecnológicos impressionantes, mudamos muito em matéria de meios de produção, bens de consumo e tecnologia, mas permanecemos os mesmos seres rudimentares quando se trata do relacionamento entre nós, da mesma espécie, os humanos.

O que nos diferenciaria dos outros animais seriam o amor, a solidariedade, a capacidade de compreensão, o perdão, o desejo de ajudar ao próximo, enfim, tudo aquilo que realmente denotasse em nós a humanidade. Entretanto, a História tem nos mostrado que nos falta tudo isso, e que sem tudo isso nós não somos assim tão diferentes dos animais irracionais, porque também nos comportamos como irracionais.

Deus nos deu a inteligência para criarmos tudo, mas nós desenvolvemos de imediato a capacidade de utilizarmos as invenções criadas para propósitos desumanos.

O homem criou a pólvora, mas ela só tem servido para municiar o armamento de humano matar humano em guerras militares e guerras civis.

Inventamos o avião, mas logo também a ele foi dada a missão de destruir milhares de pessoas em guerras desnecessárias. No episódio mais marcante da história das guerras, foram os aviões dos norte-americanos que despejaram bombas atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, matando e mutilando para sempre milhares de pessoas. O mais repugnante é que, quando do lançamento das bombas, o Japão já havia anunciado a sua rendição.

Criamos também a televisão, outro avanço de enorme importância para a humanidade. Mas ela pouco tem servido para educar, ensinar a amar, cultivar bons valores. Em regra, estimula a violência e a transforma em matérias apelativas e sensacionalistas, escandaliza com a pornografia e inverte os valores sociais e morais que deveriam pautar a vida em sociedade.

A internet foi, sem dúvidas, uma das maiores invenções do século passado, bastante expandida a partir desse século. Infelizmente, porém, ela pouco é usada para o crescimento e o melhoramento do homem enquanto homem. No vasto campo virtual encontramos furtos cibernéticos, ofensas pessoais graves, acertos silenciosos para a prática de corrupção, pornografia sem limites e muita bisbilhotagem da vida alheia.

Em meio a tudo isso, a História mais recente registra duas Grandes Guerras Mundiais, duas Guerras no Golfo Pérsico, a Guerra das Malvinas, a guerra entre Rússia e Ucrânia, guerras civis intermináveis no continente africano, além de outras, apenas para citar.

No Oriente Médio, os judeus conquistaram o direito de terem um Estado, mas não admitem que os palestinos possam ter o mesmo direito. E em razão disso, principalmente, israelitas e palestinos se digladiam e se matam de tempos em tempos, com raros e breves interstícios de paz.

Levados pela busca do poder mas vestindo a falsa indumentária de um fundamentalismo religioso, muçulmanos do Estado Islâmico sequestram e matam quem eles entendem que se opõem à criação de um Estado do tipo califado.

Da Europa o mundo assiste absolutamente inerte, com visível parcimônia que beira a cumplicidade, o enorme desastre humano, em que pessoas que fogem da miséria e das guerras na África e na Ásia morrem em embarcações que tentam chegar a países do continente europeu. No caso mais chocante, uma criança, filha de migrantes, foi encontrada numa praia euopéia, sem vida.

Todo esse cenário nos remete aos tempos da Idade Média, ou mesmo mais para trás, em que a barbárie imperou em muitas sociedades.

Somos realmente humanos? Biologicamente, sim. Somos a raça humana. Mas nossa falta de bons valores nos leva à irracionalidade que nos equipara às demais espécies de animais que habitam a terra. Torna-nos desumanos.

Alcimar Antônio de Souza