A Folha de S. Paulo vira de vez à direita
A Folha de S. Paulo, o jornal da famiglia
Frias traz para suas páginas o blogueiro Reinaldo Azevedo, que fez fama
com o combate militante contra o PT e as forças de esquerda, e com
disseminação do ódio no debate político.
Mas a Editora Abril, da famiglia Civita, não abre mão do passe
do polemista de direita e, agora, as diatribes antes restritas ao site
do panfleto direitista semanal, Veja, agora serão amplificadas no jornalão de Otávio Frias Filho. Reinaldo Azevedo informou que vai para a Folha mas não deixa a Veja, e anuncia mais novidades para breve.
O novo elenco de colunistas da Folha de S. Paulo tem ainda outro representante do Instituto Millenium: Demétrio Magnoli. Segundo Sergio D'Ávila, diretor de redação do jornal da famiglia Frias,
o novo time tem ainda Ricardo Melo (apresentado como ex-trotskista);
ele diz o executivo, "reforça o compromisso com o pluralismo e amplia o
já variado quadro de colunistas do jornal".
Pluralismo ou reforço da direita em ano eleitoral?
Reinaldo Azevedo, o fiel escudeiro de José Serra escreverá às sextas-feiras. Foi assim apresentado pela Folha: formado em jornalismo, Reinaldo Azevedo, 52, foi editor-adjunto de Política do caderno "Brasil", coordenador de Política da Sucursal de Brasília da Folha, redator-chefe da revista Bravo! e diretor de Redação da extinta revista Primeira Leitura". Desde 2006 mantém um blog no site da revista Veja. Publicou os livros Contra o Consenso (2005) e O País dos Petralhas (2008).
Além dele, o time de colunistas foi reforçado também com outra voz dos
quadros do Instituto Millenium (um centro que irradia ideias de direita e
é apoiado por grupos de mídia como Abril, Globo e, agora, a Folha). Trata-se do controvertido Demétrio Magnoli.
A contratação da dupla, especialmente de Reinaldo Azevedo, caiu como uma
bomba no jornal e foi muito mal recebida por diversos profissionais de
peso que atuam na Barão de Limeira. Para muitos jornalistas da casa, o
leitor da Folha é predominantemente conservador, mas não é um radical de direita, disposto a seguir a linha do colunista de Veja.com.
Numa tentativa de compensar, a Folha resgatou a coluna de um
ex-colaborador, o jornalista Ricardo Melo, que no passado foi dirigente
do grupo trotskista Liberdade e Luta (“Libelu”), sendo por isso
apresentado pela Folha como sinal de um suposto equilíbrio.
O fato é que, polemista profissional, Reinaldo Azevedo é também uma
marca registrada do que há de mais estreito e antiquado no debate de
ideias que, graças à democracia combatida no passado pela mesma Folha, hoje viceja na sociedade brasileira.
O diretor de redação, Sérgio D'Avila, justificou as contratações
alegando o “compromisso com o pluralismo”, mas até as pedras da Alameda
Barão de Limeira sabem que não é verdade. Com o peso que tem e seu
radicalismo caricatural de direita, Reinaldo Azevedo marca um ponto de
inflexão na história da Folha. Será um militante radical contra o PT e a esquerda brasileira, em pleno ano eleitoral.
Camaleão ideológico
Autoclassificada como plural, democrática, apartidária e a serviço do Brasil, a Folha de S. Paulo acaba de atingir mais um ponto de inflexão em seu longo zigue-zague editorial.
A contratação do direitista Reinaldo Azevedo, crítico de uma nota só dos
governos de esquerda dos últimos dez anos, aponta opção preferencial do
jornal pelo conservadorismo elitista. Leitores que consideravam o
jornal liberal e de centro vão gostar da novidade obscurantista?
Como um camaleão ideológico, o jornal Folha de S. Paulo muda de
coloração outra vez – e voltando às suas origens na direita da fauna
política. Sinaliza, com a contratação de Azevedo, um retorno ao passado
que caiu mal (como apurou o portal 247), entre os jornalistas da
redação. A chegada do novo vizinho de páginas impactou negativamente o
coletivo e lançou no ar uma pergunta: como os leitores que associam o
jornal a ideias liberais e centristas irão reagir ao peso à direita
representado por Azevedo nos porões daquele grande navio?
Emblemática, a abertura de espaço editorial para Azevedo leva a Folha às
suas raízes históricas das quais vem tentando se livrar desde o início
da década de 1980. Um típico movimento de meia-volta volver.
O jornal era de propriedade de Nabantino Ramos e foi comprado em 1962
pela dupla Otávio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho, numa
controversa e polêmica operação comercial. Dois anos depois, apoiava
abertamente o golpe militar de 1964.
No auge da repressão política da ditadura, a Folha de S. Paulo tisnou
suas páginas de sangue ao emprestar caminhonetes da distribuição do
matutino para equipes da repressão usarem na prisão de oponentes
políticos, e para transportá-los de diferentes cárceres ao centro de
tortura do Doi-Codi, na rua Tutóia, em São Paulo. A própria Folha reconhece o gesto mas hoje o considera uma questão ultrapassada.
Em 1972, quando o governo do general Emílio Médico pregava o ame-o ou deixe-o ao Brasil, a Folha publicou editoriais negando, com veemência, a existência de presos políticos no Brasil. Um dos subprodutos da empresa, o jornal Folha da Tarde,
era considerado o jornal de maior “tiragem” de S. Paulo devido ao
grande número de “tiras” (policiais) que trabalhavam nele; era uma
publicação ligada diretamente à polícia política, com amigos do
torturador-mor, Sergio Paranhos Fleury, entre seus redatores e
repórteres.
O ocaso da ditadura levou a uma primeira correção de rumo. Em 1979, o
jornal destacou em sua primeira página o grande ato pela anistia
política ocorrido na Praça da Sé, em São Paulo. Anos depois, quando o
público foi às ruas na campanha Diretas-Já, em 1984, a Folha outra
vez mostrou reflexo rápido. Dirigida por Otavio Frias Filho, mas com o
"seo" Frias na supervisão de tudo, abriu mais de uma dezena de páginas
para a cobertura do comício ocorrido na praça da Sé, em São Paulo.
Diante da hesitação do concorrente O Estado de S. Paulo e do boicote à notícia pelo jornal O Globo, a Folha deu
grossas pinceladas de verniz democrático em sua fachada. Ato contínuo,
Otavinho abriu a redação para jovens que tinham frequentado os bancos da
Universidade de São Paulo e traziam ares novos para a publicação.
Comunista, ali, é claro, não entrava, mas havia espaço para
profissionais que, na pessoa física, combatiam, pela esquerda, as
correntes mais comprometidas com a regime militar.
A fórmula deu certo. A circulação do jornal cresceu vertiginosamente, a
ponto de fazer dele o mais vendido diariamente nas bancas de São Paulo,
batendo nacionalmente, algumas vezes, o consolidado O Globo – e deixando na poeira do conservadorismo o inimigo mortal O Estado de S. Paulo, da família Mesquita.
Essa conformação político-editorial, com uma coloração fingida de
compromisso democrático, prevaleceu até o final do governo do presidente
Fernando Henrique Cardoso. Antes dele, em novo sopro da sorte, o então
presidente Fernando Collor estava no poder quando a Polícia Federal
invadiu a sede do jornal em busca de documentos que supostamente seriam
usados contra ele. O tiro, é claro, saiu pela culatra – e, como mártir,
mais uma vez a Folha teve campo para crescer.
Os conflitos ideológicos aumentaram para o jornal com o início do governo Lula. A Folha nunca
compreendeu nem aceitou o movimento sindical do final dos 70, início
dos 80, liderado por Lula a partir do ABC paulista. As greves operárias
relembravam o jornal da paralisação de jornalistas, logo após sua compra
por Frias e Caldeira, que quase fechou as portas da publicação. Em
consequência as relações com Lula, que nunca foram amistosas,
deterioram-se gradativamente.
Para a FSP, a campanha de 2014 acaba de começar
Na Era Dilma Rousseff, a Folha, em seu noticiário, renova
praticamente todos os dias a vã aposta no fracasso econômico. E, agora,
de modo inequívoco, aposta na radicalização, graças à chegada do pesado
Reinaldo Azevedo, ligado ao ex-governador José Serra.
Sua contratação demostra, inicialmente, que o jornal vê com reticências a
candidatura do presidenciável tucano Aécio Neves. Ele e Serra são
adversários na mesma trincheira – e inserir Azevedo em seu ninho
significa um recado da Folha sobre com quem o jornal vai estar nos momentos decisivos.
Azevedo, como se sabe, é um polemista de direita que vocaliza as forças
mais obscuras do espectro político. Ele já chegou a escrever um artigo
em que defendia a proibição de o ex-presidente Lula viajar livremente
pelo país. Irritadiço, clamou pelo julgamento sumário (isto é, pelo
linchamento institucional e midiático) dos réus da Ação Penal 470, o
chamado “mensalão”. Primeiro, incensando o decano do STF, Celso de
Mello, quando este discursava contra os réus, mas defenestrando-o
sumariamente no momento em que deu seu voto histórico de garantismo, ao
aceitar os embargos infringentes que alegraram as comunidades jurídica e
democrática. Sua contratação mostra ao público que, para a Folha,
a campanha eleitoral de 2014 acaba de começar – e já não restam
dúvidas, apesar de tão cedo, sobre qual o lado do jornal. Nunca à
esquerda e esforçando para manter-se até aqui no centro, a barca do
Otavinho avisa que vai mesmo é guinar para a direita. Segure-se quem
puder.
Redação de José Carlos Ruy, a partir de textos do portal 247.
Fonte: www.vermelho.org.br
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