domingo, 19 de julho de 2015

De cães, gatos e crianças

No mercado, sobram serviços para animais e faltam médicos pediatras

Certamente uma das áreas da Medicina que menos empolgam os profissionais do jaleco branco tem sido a pediatria. Encontrar médicos pediatras em Municípios do interior do Estado não é tarefa tão fácil, nem mesmo em centros urbanos maiores, como Mossoró, por exemplo.

Dizem alguns entendidos do assunto que os médicos pediatras reclamariam de uma falta de maior reconhecimento profissional, da exigência de muitas horas de trabalho e da necessidade de praticamente viverem em regime de sobreaviso, já que os pais dos pacientes desses profissionais costumam buscar socorro muitas vezes fora do chamado horário comercial de atividade.

De fato, passando-se a vista por Mossoró, percebe-se que nem mesmo as clínicas do setor privado resistiram a tantos efeitos negativos de tão bela atividade que é a pediatria. Se antes existiam muitas unidades de saúde da iniciativa privada dedicadas precipuamente ao atendimento a crianças, em dias de hoje essas unidades de saúde são poucas, e são até algo raro de se encontrar na segunda maior cidade do Rio Grande do Norte.

No serviço público de saúde ainda existem alguns médicos pediatras, mas eles estão cada vez mais em menor quantidade. Para os Municípios mais longínquos, então, os poucos médicos pediatras não querem se dirigir, preferindo permanecer na capital ou noutras poucas cidades maiores do Estado. 

No caminho inverso, aumentou significativamente em Mossoró e em vários outros Municípios do interior do Rio Grande do Norte o número de médicos veterinários e de empresas especializadas no cuidado de animais, principalmente animais de estimação, com ênfase para cães e gatos.

De fato, farmácias veterinárias e os chamados pet shops estão presentes por toda a parte, seja num Município maior, seja num Município menor.

Isso, de fato, é bom. Significa dizer que o mercado está aberto a esses profissionais de carreiras tão nobres - os médicos veterinários - e a empreendedores que enxergaram nas farmácias veterinárias e nos pet shops duas formas viáveis e lucraticas de negócios, que também fomentam as combalidas economias da imensa maioria dos Municípios localizados na região do semiárido nordestino.

Lázaro, declarado santo pela Igreja Católica e Apostólica Romana, tinha como uma de suas virtudes o cuidado dedicado aos animais. Trata-se, pois, de atitude nobre, relevante.

O que parece triste é o fato de existirem cada vez menos médicos pediatras nas áreas pública e privada do serviço de saúde e de serem cada vez mais raras as unidades de saúde - públicas e privadas - especializadas no atendimento a crianças.

Essa dura realidade, de situações bem distintas, até força a um grosseiro questionamento, que mais parece uma ilação: Afinal, houve uma inversão de valores, em que cães e gatos recebem maior preocupação que crianças, ou isso não passa de mais uma faceta mercadológica do capitalismo neoliberal, que estimula o surgimento de profissionais e empresas voltadas para animais em detrimento da diminuição de profissionais e unidades direcionadas aos cuidados do ser humano ainda em formação? 

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