segunda-feira, 29 de junho de 2015

Linguagem ma mídia

Alguns termos, expressões e frases ganham preferência na mídia

Seja nos telejornais, nos radiojornais, nos jornais impressos ou mesmo na mídia eletrônica e virtual, alguns termos, expressões e frases passaram a ser rotineiros.

Quando se fala de morte no trânsito, por exemplo, virou regra o jornalista, apresentador ou mesmo o entrevistado (geralmente alguma autoridade policial) dizer que "o acusado irá responder por homicídio doloso, quando há a intenção de matar, e não por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar".

Assistir ou ouvir a respeito da previsão do tempo chega a ser entediante, porque os termos e expressões são praticamente iguais, todos os dias, em todos os veículos de comunicação. "Pancadas de chuva", "tempo nublado a parcialmente nublado" e "tempo seco" são algumas das expressões que se repetem diariamente.

No jornalismo esportivo, então, a palavra do momento é "foco". "Manter o foco" é termo repetido em cada entrevista, tanto por profissionais do esporte como por repórteres e apresentadores de jornais.

Imprensa oscila entre o óbvio e erros grosseiros

Além de repetir à exaustão determinados termos, expressões e frases, a imprensa brasileira também comete gafes imperdoáveis.

Muito comumente, após ser noticiado determinado crime (de roubo, de homicídio, etc.), vem a frase: "A Polícia irá investigar o caso". Ora, mas é claro que a Polícia irá investigar o caso. Isso é óbvio. A Polícia foi criada também para isto: para investigar fatos em que há crimes. O arremate é de uma obviedade ululante, como diria um renomado criminalista da região Oeste potiguar.

No uso da gramática propriamente dita, a mídia brasileira (escrita, falada, televisada) e agências de publicidade gostam de induzir as pessoas ao erro. O verbo "estar", por exemplo, vem sendo costumeiramente usado de forma errada. Na imprensa, principalmente na TV e nos rádios, ninguém mais quer dizer que "o mundo está mais quente", pois se prefere dizer que "o mundo tá mais quente".

Na imprensa, "para o" e "para a" foi transformado em "pro" e "pra", adotando os profissionais da mídia, assim, uma linguagem coloquial e equivocada. Ao invés de se dizer "Para os críticos, a economia tende a crescer no segundo semestre", diz-se "Pros críticos, a economia tende a crescer no segundo semestre".

Próclise, mesóclise e ênclise, que dizem respeito à correta colocação dos pronomes nas frases e orações, são a parte da gramática certamente mais esquecida por profissionais da imprensa e das agências de publicidade. "Se vira nos 30", quadro do chato Programa do Faustão, da Rede Globo de Televisão, bem exemplifica esse erro.

Determinado anúncio publicitário, veiculado em grandes redes de televisão, traz orações do tipo "Me convença", "Me chame" e "Me responda", em novo erro de colocação pronominal, pois é regra que uma frase não pode ser iniciada com o pronome pessoal, ou seja, não se admite o início de uma frase com uma próclise.

Quando a matéria a ser noticiada tem a ver com a Ciência do Direito, os erros da imprensa são também muitos. Até hoje, por exemplo, não se faz a diferença de furto e roubo, como se as duas ações delitivas fossem exatamente a mesma coisa, que não são.

No furto, a coisa buscada pelo meliante é subtraída sem a percepção imediata da vítima e sem o uso de violência contra esta. No roubo, a coisa é subtraída mediante ameça ou violência contra a vítima e esta sabe, naquele momento, que está sendo vítima de uma ação delituosa.

Com muita frequência também se lê ou se escuta que o juiz deu parecer ou solicitou alguma diligência. Em um processo judicial, o juiz emite decisão, pois quem emite parecer é perito ou representante do Ministério Público.

Em regra, o juiz também não solicita, pois determina (que se faça algo, ou que se deixe de fazer algo) ou, no mínimo, requisita (documentos e informações).

Nesses dias, uma das maiores redes de televisão do País exibiu uma entrevista com um promotor de Justiça e, como legenda, expôs, logo abaixo do nome deste operador do Direito: "Promotor de Justiça do Ministério Público".

Ora, mas se é promotor de Justiça, só pode ser do Ministério Público. Se não for promotor de Justiça, será promotor de vendas, de eventos, etc.

Resumindo: não acredite em tudo o que você lê, escuta ou assiste através dos veículos de comunicação social, nem tenha como gramaticalmente correto tudo o que vem deles.

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