Citada como
exemplo por Bolsonaro, Suécia admite que deveria ter adotado medidas de
isolamento mais duras contra Covid-19
Citada pelo
presidente Jair Bolsonaro como exemplo no combate à Covid-19, a Suécia admitiu que
deveria ter adotado medidas mais contundentes de isolamento social para conter
a pandemia. Em resposta a críticas crescentes sobre a posição do país, o
arquiteto da resposta oficial de Estocolmo, baseada em ações voluntárias dos
cidadãos, admitiu que uma abordagem mais dura poderia ter evitado o alto número
de mortes registrado no país.
— Sim, acho que poderíamos ter feito mais do que fizemos na Suécia, claramente — disse Anders Tegnell, epidemiologista-chefe da Agência de Saúde Pública sueca, à rádio Sveriges. — Se encontrássemos a mesma doença, sabendo exatamente o que sabemos hoje, acho que acabaríamos fazendo algo entre o que a Suécia fez e o que o resto do mundo fez.
— Sim, acho que poderíamos ter feito mais do que fizemos na Suécia, claramente — disse Anders Tegnell, epidemiologista-chefe da Agência de Saúde Pública sueca, à rádio Sveriges. — Se encontrássemos a mesma doença, sabendo exatamente o que sabemos hoje, acho que acabaríamos fazendo algo entre o que a Suécia fez e o que o resto do mundo fez.
A Suécia tem uma taxa de mortalidade por Covid-19 mais baixa que países como Reino Unido, Espanha e Itália — os epicentros da doença na Europa. No entanto, com 443 mortes por um milhão de pessoas, a nação possui o oitavo maior número de mortes per capita do planeta pelo novo coronavírus, situação bastante crítica comparada a de outros lugares que impuseram quarentenas totais. Em parte do mês de maio, conforme seus vizinhos nórdicos conseguiam controlar o contágio pelo novo coronavírus, a Suécia teve a maior taxa de mortalidade do continente europeu.
A admissão de Tegnell veio após meses de críticas a outros países europeus que adotaram lockdowns: até este momento, o governo sueco, de centro-esquerda, insistia que sua abordagem frente à doença era economicamente mais sustentável. A insistência gerou uma série de questionamentos e críticas internacionais e domésticas, isolando Estocolmo no bloco europeu.
No ápice da pandemia, a Suécia foi um dos poucos países em que cafés e restaurantes ficaram abertos, escolas para alunos abaixo de 16 anos funcionavam e onde amigos e parentes ainda podiam se reunir. As fronteiras continuaram abertas para visitantes europeus e o isolamento social era voluntário, apostando na cooperação do público. As estatísticas suecas mostram a fraqueza do plano: o país apresenta quase quatro vezes o total de mortos somado dos outros países nórdicos.
Enquanto os mortos por Covid-19 no território sueco chegam a 4.468, com 38.589 casos confirmados, Noruega e Dinamarca, que adotaram medidas de isolamento, têm números bastante inferiores: 8.455 infectados e 237 mortes, e 11.934 infectados e 580 mortes, respectivamente. Ambos os países começam a retomar gradualmente suas atividades e anunciaram, há pouco mais de uma semana, a reabertura de suas fronteiras. O acesso à Suécia, no entanto, continuará suspenso.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro Stefan Lofven disse que criará uma comissão para investigar a resposta do governo à pandemia. O premier não respondeu aos pedidos de comentários feitos pela agência Reuters, mas sua ministra de Saúde e Assuntos Sociais, Lena Hallengren, disse por escrito que Estocolmo "sempre esteve preparada para introduzir medidas mais abrangentes recomendadas pelas autoridades de saúde".
Segundo Tegnell, como quase todos os países europeus aderiram ao confinamento total, é difícil saber quais medidas poderiam ter sido mais eficazes na Suécia. Até o momento, a opinião pública no país vinha apoiando as diretrizes oficiais, mas políticos e diplomatas ouvidos pelo Financial Times apontam para uma mudança de opinião motivada principalmente pelo isolamento sueco, frente ao fechamento das fronteira pelos vizinhos.
Os diplomatas e políticos ouvidos pelo FT apontam que a insatisfação com a estratégia adotada coincide com uma mudança do tom da mídia local, que vem sendo mais crítica ao governo. Outros aspectos que geram insatisfação são o grande número de mortos em casas de repouso e a baixa testagem para a Covid-19 no país. Na semana passada, apenas um terço da meta de 100 mil exames semanais foi atingido.
Fonte: www.extraonline.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário