sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Opinião

A esperança não tem dono

O segundo turno da eleição presidencial está chegando. Nesse domingo, 30 de outubro, voltamos aos locais de votação para reafirmarmos o nosso compromisso com a democracia. Exerceremos um direito, que também é, ao mesmo tempo, um dever.

No Brasil, houve um tempo em que se debatia eleições presidenciais com civilidade, discussão de ideais, opiniões sobre linhas programáticas de cada partido, etc. Infelizmente, esse tempo passou. Agora, sobram agressões, notícias falsas, assédio religioso eleitoral, assédio moral eleitoral, ameaças, intolerância e medos.

Sim, temos medos, no plural: de sermos agredidos por nossa posição política, de sermos ofendidos por sermos nordestinos, e de sermos intimidados por termos posições diversas daqueles que agora se escudam no discurso de ódio de seu líder para se acharem no direito de atacarem, agredirem, ofenderem.

Numa pátria em que o governo central valoriza as armas de fogo e despreza os livros, o medo de um segmento maior da sociedade se faz nascente.

Nos últimos quatro anos, assistimos diariamente a agressões e mais agressões a mulheres, jornalistas, profissionais de saúde (principalmente durante a pandemia da Covid-19), pessoas mais humildes, negros, homoafetivos e, de forma coletiva, a nós nordestinos, a quem se manda comer capim, a quem se chama de miseráveis, a quem se adjetiva como mortos de fome.

Levamos séculos para tornarmos realidade os direitos conseguidos à custa de muitas lutas e até de vidas humanas. Levamos décadas para recuperarmos a democracia, jogada ao chão naquele golpe de Estado de 13 de março de 1964, a partir de quando o País mergulhou num negro e extenso período de repressão, torturas e mortes, praticadas por um regime ditatorial que tinha, dentre outros, o coronel Carlos Brilhante Ustra.

Mencionei o nome específico do coronel Ustra porque ele, com seus feitos desumanos, continua a ter no País um grande apologista e admirador, que é o atual Presidente da República. Aliás, o atual governante do País aplaude toda a ditadura militar, zombando das famílias que ainda hoje procuram os corpos de parentes que morram nos porões da ditadura, como zombou sem qualquer constrangimento das vítimas da pandemia do novo coronavírus.

De certo, também batem palmas para o general Ustra e para o violento regime dos militares, e também fazem o mesmo pouco caso das quase setecentas mil mortes da Covid-19, os eleitores do atual Presidente, os que se dizem cristãos mas o seguem fielmente, os que vislumbram possuir dezenas de armas de fogo e os que, por interesses próprios, enxergam-no como ideal para a manutenção das benesses sociais e econômicas, destinadas a uma pequena elite, em detrimento de uma imensa maioria que está na miséria ou muito perto dela.

No início, até pensei em denominar o texto de “A esperança vencerá o medo”. Todavia, preferi o título ora utilizado apenas para realçar que a opção dos mais pobres e do povo em geral por um candidato de esquerda, nesse momento, não é obra de conquista desse ou daquele político, ou dessa ou daquela liderança, mas sim da vontade do povo, cansado de tanto sofrimento e de tanto abandono de parte de um Governo Federal que privilegia uns poucos e maltrata milhões.

O voto para Luiz Inácio Lula da Silva, nesse instante, é uma consciente manifestação de vários setores da sociedade brasileira, principalmente da camada economicamente mais pobre. É um sim à permanência da democracia, constantemente abalada por arroubos autoritários da direita e de seu líder maior nesse momento; um sim ao direito da livre manifestação do pensamento, tolhido e perseguido no atual momento da vida política brasileira; um sim a um pedido coletivo de volta à normalidade, pois infelizmente vivemos tempos sombrios, em que milícias armadas e milícias digitais, ao lado de medidas governamentais absolutamente equivocadas, assustam e comprometem o exercício das liberdades individuais e coletivas, conquistas tão duramente.

A opção por uma mudança nesse momento é, acima de tudo, uma manifestação de ESPERANÇA: por mais educação e menos armas de fogo; por mais natureza e menos destruição; por mais dignidade e menos gente na linha da pobreza; por mais comida na mesa dos brasileiros, e nenhuma pessoa na fila do osso ou atrás do carro do lixo em busca de restos de alimentos.

Esse voto de esperança não tem dono, pois pertence a cada um e a cada uma dos milhares de brasileiros e brasileiras que, de norte a sul, de leste a oeste e, principalmente, nesse rico Nordeste, almejam dias melhores, noites mais tranquilas, paz mais presente.

De fato, a esperança não tem dono: pertence a cada um!

Alcimar Antônio de Souza