O padre
Messias Targino sempre
foi um Município de gente muito acolhedora. Hospitalidade foi e continua sendo uma
marca de conduta do povo messience.
Outra característica de
Messias Targino é que, desde a sua fundação, ainda como Povoado do Junco, o
lugar nunca foi sede de Paróquia. Mesmo após a emancipação política e
administrativa do solo messiense em relação ao Município de Patu, a cidade de Messias
Targino, na organização pastoral da Madre Igreja Católica Apostólica Romana,
continuou vinculada pastoralmente ao Município-mãe de Patu, sendo assim parte
da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, sediada na terra do Santuário do Lima.
Todavia, nem por isso a
Capela de Nossa Senhora das Graças, padroeira do povo messience, deixou de ter
a sua enorme relevância para a vida religiosa, social e comunitária do lugar. Inclusive
ela continua sendo o seu principal cartão-postal, juntamente com a Praça
Central João Jales Dantas, que lhe está à frente.
De maioria
cristã-católica ainda hoje, nos idos dos anos setenta e oitenta do século
passado essa maioria era ainda mais expressiva no Município de Messias Targino.
Nesse cenário, o respeito
à pessoa do padre e ao seu ministério sempre foi muito grande por parte do povo
cristão-católico de Messias Targino.
Pois bem, nos anos
setenta e oitenta do século passado, estávamos em um tempo de pouquíssimas
tecnologias na área de comunicação social. Telefone móvel não existia.
Computador era algo ainda desconhecido.
Tínhamos, mesmo, o bom e
velho rádio, que nos mantinha informado, e a televisão, que, na ausência de uma
antena repetidora local, exigia dos poucos proprietários desse aparelho na
comunidade a habilidade de girar a antena caseira (aquela em forma de T) em
busca de um sinal proveniente de Martins, Brejo do Cruz ou outro local que
tivesse uma antena de captação e distribuição mais potente.
Existia também o posto
comunitário da TELERN (sigla da empresa estatal Telecomunicações do Rio Grande
do Norte), que dispunha de duas linhas de telefone fixo para ligações
telefônicas de toda a comunidade.
Nesse contexto, de
costumes sertanejos feitos à base da humildade, da hospitalidade e da boa-fé
das pessoas, sem muitas formas de checagem instantânea de certos fatos, surgiu
em Messias Targino, lá pelos anos oitenta do século passado, um novo padre. Não
era o padre que estava em atuação na Paróquia de Nossa Senhora das Dores, de
Patu, nem também era conhecido do povo.
Mas, chegando o sacerdote
à cidade, ele se identificou, disse pertencer à Santa Igreja Católica, e logo
passou a celebrar. Anunciou que ficaria na comunidade por um certo período,
numa missão de evangelização.
Sem um padre constante na
cidade, pois o pároco de Patu atendia a pelo menos cinco ou seis Municípios
diferentes, a chegada desse sacerdote foi até festejada. Com área pastoral
enorme para cuidar, o padre de Patu somente ia a Messias Targino no último
domingo de cada mês e, excepcionalmente, se houvesse algum fato a ensejar a sua
presença. Logo, a chegada de um padre para ficar dias seguidos na cidade parecia
ser uma boa notícia.
De fato, com a chegada
desse novo padre, a Capela de Nossa Senhora das Graças estava lotada, todos os
dias, durante as celebrações.
Nessa época, a minha avó
materna, Noêmia Maria de Almeida, era a zeladora da Igreja de Nossa Senhora das
Graças, e a minha mãe, Maria José de Souza (Maria do Junco), era catequista e
agente de pastoral. Muitos da família Almeida e de outras tradicionais famílias
messienses tinham ativa participação no dia a dia da Capela de Nossa Senhora
das Graças, como ainda acontece hoje.
O novo padre se instalou
na Casa Paroquial, que fica ao lado da Capela de Nossa Senhora das Graças, e as
suas refeições (café da manhã, almoço, jantar) ficaram por conta da enorme
hospitalidade do povo messiense. Nesse período, é possível que ele tenha
engordado bastante, diante da grande generosidade do povo, que não se cansava
de fazer doações de alimentos ao novo pastor do rebanho. Frutas e queijos chegavam
bastante à sede da Casa Paroquial.
Logo nas primeiras
celebrações da Santa Missa, presididas pelo novo padre, perceberam-se pequenas
alterações no rito. Não era nada tão destoante do que já se conhecia, mas eram
mudanças.
Até aí, nenhum problema!
Problema mesmo foi quando
se descobriu que o novo padre reunia jogadores de baralho habituais da cidade
para sequências de partidas no interior da Casa Paroquial, todas as noites. A
comunidade passou a estranhar. Um padre viciado em baralho?
Como o padre era novato,
foi convidado e aceitou a missão para lhe fazer companhia na Casa Paroquial o
então jovem Genésio Francisco Pinto Neto, o popular Pôla de Edite de Nejo, que
anos à frente viria a se tornar líder sindical, vereador e vice-prefeito.
Certo dia, Pôla deixou
vazar a informação que o novo padre guardava uma arma de fogo entre os seus
pertences.
A informação não foi amplamente
divulgada, mas chegou aos ouvidos das pessoas que estavam no dia a dia da
Igreja de Nossa Senhora das Graças.
Sem nada dizer a ninguém,
a catequista Maria do Junco procurou a sede da Diocese de Santa Luzia, em
Mossoró, para colher informações desse padre.
Ao retornar à cidade, com
a informação que foi buscar, Maria do Junco se deparou com a notícia da saída
repentina e desavisada do novo padre. Foi embora de Messias Targino, sem mais
nem menos, ou, anoiteceu e não amanheceu, como se diz popularmente.
A fuga tinha razão de
ser. Realmente ele era padre, porém era sacerdote da Igreja Católica Apostólica
Brasileira, que não é a mesma Igreja Católica Apostólica Romana, na qual
professamos a nossa fé.
As celebrações na Capela
de Nossa Senhora das Graças diminuíram, a Casa Paroquial deixou de servir de
casa de jogo de baralho e a vida religiosa do lugar voltou ao normal.
Quanto ao “padre”, nunca
mais ouvimos falar a respeito dele.
Alcimar Antônio de Souza