BRASIL REVIVE EPISÓDIOS QUE CULMINARAM COM O SUICÍDIO DE GETÚLIO VARGAS
Por Erasmo Firmino
O que ocorre no Brasil hoje é bem semelhante ao que ocorreu nos anos 50, culminando com o suicídio do então presidente Getúlio Vargas. Na época, o principal partido de oposição era a UDN (União Democrática Nacional), um partido liberal na economia, conservador na política e elitista na questão social. A UDN era ruim de voto, havia perdido as eleições em 1945 e 1950, mas tinha grande força no Legislativo, força esta usada para combater ferozmente Getúlio Vargas.
A UDN era implacável na oposição, se recusando a qualquer acordo ou diálogo com o governo. Defendiam que o presidente Getúlio Vargas era um homem corrupto, apegado ao poder e mesquinho, que só pensava em se manter na presidência da República.
A imprensa trabalhava lado a lado com a oposição. Foram várias as manchetes demonizando o governo, uma campanha de desmoralização que tinha como principal voz o jornalista Carlos Lacerda.
Nem a oposição e nem a imprensa aceitaram algumas ações nacionalistas de Getúlio Vargas, como a criação da Petrobras, o aumento de 100% do salário-mínimo em 1954 e a defesa dos direitos trabalhistas. Nos discursos, todavia, apontavam a corrupção como a causa da indignação.
O potiguar Café Filho, então vice-presidente, juntou-se a oposição e a imprensa para pedir a renúncia do presidente. O estopim aconteceu no dia 05 de agosto de 1954, quando o jornalista Carlos Lacerda sofreu um atentado, deixando-o ferido. Após investigações, descobriu-se que o mandante do crime foi Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente.
Nos dias seguintes ao que ficou conhecido como o “Atentado da Rua Toneleros”, a pressão sobre Vargas foi imensa. Os pedidos de renúncia por parte da oposição e da imprensa ficaram mais intensos e vorazes. No dia 24 de agosto Getúlio Vargas se matou.
O suicídio do presidente reverteu o quadro. Acusado de obcecado pelo poder, Vargas mostrou exatamente o contrário. Seu cadáver agora estava nas costas dos seus algozes, que não souberam o que fazer. A população foi às ruas contra a UDN e a imprensa. Carlos Lacerda fugiu do país. Sedes dos partidos de oposição foram invadidas e incendiadas.
A UDN jamais assumiu o poder, o que poderia ter acontecido se Getúlio Vargas permanecesse vivo. Os problemas do país também não foram resolvidos. Enfim, foi um grande erro estratégico.
Parece-me que os atuais líderes da oposição não aprenderam com a história.
Erasmo Firmino, servidor público estadual e editor do Blog Tio Colorau.
Texto e foto: www.tiocolorau.com.br