sábado, 6 de junho de 2020

Reminiscências

Nos campos da vida

Amante do futebol, fui de uma geração bastante privilegiada em Messias Targino. Na minha infância, na minha adolescência e em grande parte da juventude, tive o prazer de ver de perto a grandiosidade do futebol amador messiense, numa época em que promover essa modalidade esportiva era um desafio ainda maior.

Meu tio, Severino de Souza, popularmente conhecido por “Vela Preta”, juntava-se a alguns abnegados e da ação desse grupo e de muitos colaboradores saíam bons campeonatos, bons times de futebol e muitas partidas amistosas com representação sempre destacada de Messias Targino.

Meu tio-avô Valcides Manoel de Almeida, nosso “tio Dedé” ou simplesmente “Bode Velho”, que vivia da agricultura e dependia da terra para seu próprio sustento, abriu mão, por muitos anos, de um terreno situado às margens da cidade para que ali existisse um campo de futebol, carinhosamente chamado de Estádio João Tomaz de Almeida, ou “Almeidão”. A estrutura era acanhada e bastante simplória, mas desconheço palco do esporte amador messiense que mais tenha elevado o tamanho das nossas emoções de amantes do desporto amador.

Severino, Teixeirinha, Julimar Almeida, tio Dedé e outros abnegados faziam o futebol amador acontecer. Há outros, que agora não me recordo, mas esses, principalmente, cuidaram do esporte bretão em Messias Targino por muitos anos.

Quando a nossa representação jogava em Messias Targino, nos domingos à tarde saíamos ainda debaixo de sol forte para o nosso Estádio Almeidão, cuja bilheteria ficava nas imediações da queijeira e desnatadeira de Antonio Queijeiro (Antônio Araújo), um grande cidadão messiense.

Eu nem sempre pagava o ingresso, muitas vezes porque não dispunha do valor cobrado, outras vezes porque tio Dedé me franqueava a entrada antes mesmo de eu pedir para entrar de graça.

Fluminense, Cruzeiro, A Turma e outras equipes amadoras de Messias Targino tiveram atuação destacada nos amistosos e torneios da região Oeste do Rio Grande do Norte. A seleção messiense foi destaque em sua participação numa das edições do Campeonato Matutão, uma espécie de terceira divisão do futebol norte-rio-grandense.

Era uma época de muitos talentos, a começar pelos goleiros: Novinho Almeida (Novinho de Torrola), Cleverlando Almeida (irmão de Novinho), Júnior Carias (ou Júnior de Fransquinho Carias) e Gregório marcaram épocas distintas no futebol messiense, quase em sucessões seguidas, exceto Júnior e Gregório, que atuaram em período simultâneo. Houve outros, mas a falha na memória decorrente dos anos vividos me faz limitar-me a esses nomes.

Alguns jogadores de outros Municípios vestiam as camisas de times messienses com muito orgulho e com muita raça, como é o caso de Zé Américo, patuense que formou duplas memoráveis de zagueiros, ora atuando ao lado de meu primo De Assis Almeida, ora ao lado de Neguinho de Bira, às vezes junto com Onézimo Teixeira Ribeiro (Neném de Teixeirinha), e tantos outros.

Tínhamos um meio de campo extremamente talentoso, com as opões de contar com Reginaldo de Geraldo, Nonato Almeida, Tubiba, Naldo de Seu Fernando, Coca e muitos outros.

Jogando na maioria das vezes num autêntico 4-3-3, o selecionado messiense tinha Peú aberto pela ponta direita e Dedé de Chiquito jogando como um talentoso ponta esquerda. 

As escalações mudaram bastante ao longo dos anos, mas me recordo muito bem desses atletas.

No Fluminense e na seleção messiense, um jogador sempre funcionava muitíssimo bem na grande área, como centroavante habilidoso para driblar os adversários e finalizar as jogadas com enorme precisão: Francisco Augusto Dantas da Rocha, ou simplesmente Lequinho (para uns), ou Lequim (para outros).

Lequinho sempre foi diferenciado. Entortava os defensores adversários com facilidade impressionante. Era difícil marcá-lo, e mais difícil ainda era lhe tomar a bola quando esta estava sob seu domínio.

À beira do campo, quase entrando nele, mas sempre advertidos pelos gritos de tio Dedé (“Olhe a farinha do homem!” em alusão à faixa da cal que demarcava o campo), ficávamos mais agitados quando a bola chegava aos pés de Lequinho. Era a certeza de que teríamos o gol ou que ao menos uma grande jogada seria realizada. Raramente não o vi jogar bonito e eficiente.

Para mim e para os demais da minha época que também gostavam do nosso futebol amador, Lequinho foi certamente uma das nossas maiores referências do futebol messiense. Fez parte da nossa alegria. Esteve em nossas conversas sobre futebol por quase duas décadas. Era parte do nosso orgulho de torcedor messiense acostumado às vitórias.

Lequinho foi inspiração para que muitos sonhassem em se tornar jogador profissional de futebol.

Para mim e para muitos, a presença de Lequinho numa equipe de futebol messiense sempre foi sinônimo de gols, de vitória, de futebol bem jogado, bonito e eficiente.

O tempo passou e Lequinho teve que pendurar as chuteiras. Ficaram as boas lembranças de uma época em que os registros visuais eram escassos. Ficaram na memória os filmes de quando acompanhávamos Lequinho e nossos times messienses, atuando na cidade ou fora dela.

Vencer, porém, não foi consequência das ações de Lequinho apenas dentro de campo. Na vida, ele foi e continua sendo um vencedor. Sempre foi cidadão de bem, trabalhador digno, pessoa bastante carismática e titular do respeito da comunidade messiense.

Nascido em 28 de março de 1963, recentemente Lequinho teve mais uma grande vitória. Submeteu-se com sucesso a um delicado procedimento cirúrgico, para tratamento de grave problema cardíaco. Como fez em campo por muitos anos, Lequinho mais uma vez ergueu a cabeça, driblou os adversários e... gooooool de Lequinho, que graças a Deus, recupera-se bem ao lado da família.

A você, Lequinho, o meu sincero agradecimento por ter nos presentado por anos com um futebol alegre, construtor de emoções geralmente positivas nos corações de quem, como eu, tinha – e continuo tendo – uma grande paixão pelo futebol.

Rogo a Deus que continue lhe abençoando com saúde, para que você possa continuar driblando as dificuldades que a vida nos impõe, vencendo cada batalha com a força e o talento que você sempre teve.

Ao final dessa pandemia, se Deus permitir, estarei à sua porta, para lhe dar um abraço, com a mesma alegria que, quando menino, corria para o centro do campo a cada final de jogo para festejarmos as vitórias do nosso futebol messiense.

Alcimar Antônio de Souza

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