Nos campos da vida
Amante do
futebol, fui de uma geração bastante privilegiada em Messias Targino. Na minha
infância, na minha adolescência e em grande parte da juventude, tive o prazer
de ver de perto a grandiosidade do futebol amador messiense, numa época em que
promover essa modalidade esportiva era um desafio ainda maior.
Meu tio,
Severino de Souza, popularmente conhecido por “Vela Preta”, juntava-se a alguns
abnegados e da ação desse grupo e de muitos colaboradores saíam bons
campeonatos, bons times de futebol e muitas partidas amistosas com
representação sempre destacada de Messias Targino.
Meu tio-avô
Valcides Manoel de Almeida, nosso “tio Dedé” ou simplesmente “Bode Velho”, que
vivia da agricultura e dependia da terra para seu próprio sustento, abriu mão,
por muitos anos, de um terreno situado às margens da cidade para que ali
existisse um campo de futebol, carinhosamente chamado de Estádio João Tomaz de Almeida,
ou “Almeidão”. A estrutura era acanhada e bastante simplória, mas desconheço
palco do esporte amador messiense que mais tenha elevado o tamanho das nossas
emoções de amantes do desporto amador.
Severino,
Teixeirinha, Julimar Almeida, tio Dedé e outros abnegados faziam o futebol
amador acontecer. Há outros, que agora não me recordo, mas esses,
principalmente, cuidaram do esporte bretão em Messias Targino por muitos anos.
Quando a nossa
representação jogava em Messias Targino, nos domingos à tarde saíamos ainda
debaixo de sol forte para o nosso Estádio Almeidão, cuja bilheteria ficava nas
imediações da queijeira e desnatadeira de Antonio Queijeiro (Antônio Araújo),
um grande cidadão messiense.
Eu nem sempre
pagava o ingresso, muitas vezes porque não dispunha do valor cobrado, outras
vezes porque tio Dedé me franqueava a entrada antes mesmo de eu pedir para
entrar de graça.
Fluminense,
Cruzeiro, A Turma e outras equipes amadoras de Messias Targino tiveram atuação
destacada nos amistosos e torneios da região Oeste do Rio Grande do Norte. A
seleção messiense foi destaque em sua participação numa das edições do
Campeonato Matutão, uma espécie de terceira divisão do futebol
norte-rio-grandense.
Era uma época de
muitos talentos, a começar pelos goleiros: Novinho Almeida (Novinho de Torrola),
Cleverlando Almeida (irmão de Novinho), Júnior Carias (ou Júnior de Fransquinho
Carias) e Gregório marcaram épocas distintas no futebol messiense, quase em
sucessões seguidas, exceto Júnior e Gregório, que atuaram em período
simultâneo. Houve outros, mas a falha na memória decorrente dos anos vividos me
faz limitar-me a esses nomes.
Alguns jogadores
de outros Municípios vestiam as camisas de times messienses com muito orgulho e
com muita raça, como é o caso de Zé Américo, patuense que formou duplas memoráveis
de zagueiros, ora atuando ao lado de meu primo De Assis Almeida, ora ao lado de
Neguinho de Bira, às vezes junto com Onézimo Teixeira Ribeiro (Neném de
Teixeirinha), e tantos outros.
Tínhamos um meio
de campo extremamente talentoso, com as opões de contar com Reginaldo de Geraldo, Nonato Almeida,
Tubiba, Naldo de Seu Fernando, Coca e muitos outros.
Jogando na
maioria das vezes num autêntico 4-3-3, o selecionado messiense tinha Peú aberto
pela ponta direita e Dedé de Chiquito jogando como um talentoso ponta esquerda.
As escalações mudaram bastante ao longo dos anos, mas me recordo muito bem
desses atletas.
No Fluminense e
na seleção messiense, um jogador sempre funcionava muitíssimo bem na grande
área, como centroavante habilidoso para driblar os adversários e finalizar as
jogadas com enorme precisão: Francisco Augusto Dantas da Rocha, ou simplesmente
Lequinho (para uns), ou Lequim (para outros).
Lequinho sempre
foi diferenciado. Entortava os defensores adversários com facilidade
impressionante. Era difícil marcá-lo, e mais difícil ainda era lhe tomar a bola
quando esta estava sob seu domínio.
À beira do
campo, quase entrando nele, mas sempre advertidos pelos gritos de tio Dedé
(“Olhe a farinha do homem!” em alusão à faixa da cal que demarcava o campo),
ficávamos mais agitados quando a bola chegava aos pés de Lequinho. Era a
certeza de que teríamos o gol ou que ao menos uma grande jogada seria
realizada. Raramente não o vi jogar bonito e eficiente.
Para mim e para
os demais da minha época que também gostavam do nosso futebol amador, Lequinho
foi certamente uma das nossas maiores referências do futebol messiense. Fez
parte da nossa alegria. Esteve em nossas conversas sobre futebol por quase duas
décadas. Era parte do nosso orgulho de torcedor messiense acostumado às
vitórias.
Lequinho foi
inspiração para que muitos sonhassem em se tornar jogador profissional de
futebol.
Para mim e para
muitos, a presença de Lequinho numa equipe de futebol messiense sempre foi
sinônimo de gols, de vitória, de futebol bem jogado, bonito e eficiente.
O tempo passou e
Lequinho teve que pendurar as chuteiras. Ficaram as boas lembranças de uma
época em que os registros visuais eram escassos. Ficaram na memória os filmes
de quando acompanhávamos Lequinho e nossos times messienses, atuando na cidade
ou fora dela.
Vencer, porém,
não foi consequência das ações de Lequinho apenas dentro de campo. Na vida, ele
foi e continua sendo um vencedor. Sempre foi cidadão de bem, trabalhador digno,
pessoa bastante carismática e titular do respeito da comunidade messiense.
Nascido em 28 de
março de 1963, recentemente Lequinho teve mais uma grande vitória. Submeteu-se
com sucesso a um delicado procedimento cirúrgico, para tratamento de grave
problema cardíaco. Como fez em campo por muitos anos, Lequinho mais uma vez
ergueu a cabeça, driblou os adversários e... gooooool de Lequinho, que graças a
Deus, recupera-se bem ao lado da família.
A você,
Lequinho, o meu sincero agradecimento por ter nos presentado por anos com um
futebol alegre, construtor de emoções geralmente positivas nos corações de
quem, como eu, tinha – e continuo tendo – uma grande paixão pelo futebol.
Rogo a Deus que
continue lhe abençoando com saúde, para que você possa continuar driblando as
dificuldades que a vida nos impõe, vencendo cada batalha com a força e o
talento que você sempre teve.
Ao final dessa
pandemia, se Deus permitir, estarei à sua porta, para lhe dar um abraço, com a
mesma alegria que, quando menino, corria para o centro do campo a cada final de
jogo para festejarmos as vitórias do nosso futebol messiense.
Alcimar Antônio
de Souza
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