Dênis de "seu" Luiz
Em Messias Targino
tive vários domicílios ao longo da vida. No entanto, foi na antiga Rua João
Jales Dantas, atual Avenida Genuíno Fernandes Jales, bem no centro da cidade, onde
passei mais tempo, desde que eu e minha mãe, Maria José de Souza, ou Maria do
Junco, chegamos à cidade quando eu tinha entre quatro e cinco anos, após
passagens por Patu, onde nasci e onde moramos por vários anos, e por Natal,
onde residimos por algum tempo precisamente nos fundos da casa do professor
Júlio Benedito, que dá nome à principal Escola da rede municipal de ensino do
Município messiense.
Nessa mesma rua
moravam Luiz Soares de Brito, popularmente conhecido como “seu” Luiz Vaqueiro,
casado com dona Maria José Rodrigues, e sua belíssima família, da qual destaco,
sem desmerecimento aos demais, o próprio “seu” Luiz, sua filha Antonia Lobato (nossa
professora Antonieta ou Tieta) e outro filho de “seu” Luiz, Wendell Rodrigues
de Brito.
Apesar do nome
pomposo, Wendell para nós se tornou conhecido como Dênis de Luiz Vaqueiro, ou
simplesmente Dênis, ou, ainda, numa simplificação mais sertaneja, Dene.
Crescemos juntos,
na Rua João Jales Dantas e nos seus arredores, num tempo em que a pavimentação
sequer havia chegado à nossa rua, o que nos permitia horas e mais horas de
muitas brincadeiras, inclusive o tradicional joguinho de futebol.
Quando não
jogávamos na própria rua, íamos bater uma bola nos fundos da casa da minha avó
Noêmia e nos fundos da casa vizinha à de minha avó. Nesta casa vizinha, na
época, funcionou por muitos anos um bar, que não costumava abrir cedo do dia.
Logicamente mamãe,
muito severa, nem sempre permitia aquele barulho de tantos meninos tentando
provar para si e para os demais que tinham algum talento para a prática desse
esporte coletivo (e na verdade, não tínhamos muito).
Porém, mamãe,
catequista e agente de pastoral, tinha muitos compromissos na Capela de Nossa
Senhora das Graças (de Messias Targino), na Paróquia de Nossa Senhora das Dores
(de Patu) e até na Diocese de Santa Luzia (de Mossoró). Não raramente se
ausentava para participar de reuniões, assembleias pastorais paroquiais,
assembleias pastorais diocesanas, encontros de catequistas e agentes de
pastoral, e assim por diante.
Aliás, a
professora Tieta teve também enorme participação, como voluntária, nos
trabalhos da Capela de Nossa Senhora das Graças, além de ter sido exímia
professora da rede pública de ensino.
Voltando ao nosso
futebol, quando o praticávamos por trás da casa da minha avó Noêmia, contávamos
com a complacência dela, que colocava em prática o jargão de que os avós gostam
mais dos netos do que dos filhos, de modo que, na ausência de mamãe, nós
transformávamos o quintal da sua casa num sofrido campinho de futebol.
Dênis de seu Luiz,
meu primo Rondinelli Almeida, nosso amigo Getúlio Oliveira Lima (o popular
Memeia de Luza de Ricardina, de saudosa memória), meu primo Vilmar de Souza
(Lunga de Tronqueira) e tantos outros se juntavam nas brincadeiras diárias. Era
um tempo em que não tínhamos telefone (aliás, a cidade apenas tinha o posto
telefônico da TELERN, de uso coletivo), e, tirando os horários de estudo,
ficávamos livres para sermos essencialmente crianças e, mais adiante,
adolescentes tipicamente felizes.
O futebol, por
sinal, era apenas uma das nossas atividades de passar o tempo, ou de
aproveitamento da vida, ou simplesmente de fortalecimento da amizade. Tínhamos
várias outras. Na adolescência, criamos uma banda musical, cujo “empresário”
era Cleóbulo Ferreira (ou Cleobe de Rita de Geraldo), da qual fazíamos parte
eu, Dênis e Rondinelli. Os ensaios ocorriam num prédio vazio que existia ao
lado da casa de Cleóbulo, que ficava na mesma Rua João Jales Dantas, próximo à
minha casa e à casa de “seu” Luiz.
O tempo passou e a
vida exigiu que buscássemos caminhos diferentes. Em 1990 fui morar em Mossoró,
para cursar o pré-vestibular e tentar o ingresso no ensino superior.
No caso de Wendell
Rodrigues, ou Dênis de seu Luiz, ele acompanhou a sua irmã Antônia (Tieta) no
rumo das Minas Gerais. Ela havia ido para aquele Estado em 1983, fixando-se em
Juiz de Fora, e Dênis foi para lá, para morar, em 1992.
Depois que ele se
foi para Minas Gerais, praticamente perdemos o contato, que, contudo, foi
restabelecido anos mais tarde por via remota, após o surgimento das redes
sociais da internet. Passei a segui-lo em suas páginas virtuais e ele também
passou a me seguir. Vez por outra dizíamos alguma coisa um ao outro, mas sempre
de forma concisa e com a frieza das palavras digitadas, que continuam longe de
traduzir ou substituir uma conversa presencial, um abraço amigo, um aperto de
mão.
Pelas redes
sociais, e também por informações de sua sobrinha Regivânia Rodrigues de
Almeida, que continua residindo em Messias Targino, fiquei sabendo que Dênis
estava bem, havia constituído família, e se tornou pai de dois filhos (Nicolly
e Luigi). E isso me deixava imensamente feliz, porque um amigo sempre fica
feliz quando sabe que o outro, mesmo distante, encontra-se bem, no rumo certo.
Todavia, no último
dia 14 de abril, fui surpreendido pela trágica notícia da morte do amigo
Wendell Rodrigues, ou Dênis de seu Luiz. Vi a trágica notícia em página pessoal
da professora Regivânia, e ela também foi informada pela professora Tieta em
grupo de mensagens do qual fazemos parte.
Dênis nos deixou
cedo, pois tinha apenas quarenta e nove anos de idade. No entanto, não gosto
nem me atrevo a questionar os desígnios de Deus. Talvez seja verídico aquele
dito popular de que “Deus leva primeiro os melhores”, pois certamente Dênis
estava entre os melhores aqui na terra.
Infelizmente, a
vida não nos deu a chance da última conversa presencial, de um último abraço. A
distância que gera o progresso pessoal é também a distância que faz nascer a
saudade.
Mesmo assim,
Dênis, gostaria de lhe prestar essa última homenagem, simplória, porém cheia de
sinceridade. Orgulha-nos o homem que você se tornou: responsável, trabalhador,
pai exemplar.
Através de sua
irmã Tieta e da sua sobrinha Regivânia, gostaria que essa singela homenagem
chegasse aos seus filhos, para que eles também soubessem um pouco que, antes de
partir para Minas Gerais, Wendell, ou Dênis, havia deixado raízes bem fincadas
nesse solo nordestino e em terras messienses. E, mais que isso, que deixou
também amigos e pessoas que gostavam muito de Dênis de seu Luiz Vaqueiro.
O pedido a Deus é para que receba Dênis de seu Luiz no Reino do Céu!
Alcimar Antônio de Souza
Um amigo