As reais questões de
fundo
Alcimar Antônio de Souza
Neste domingo,
anuncia-se uma grande “mobilização popular” contra o governo da presidente
Dilma Roussef, sob o argumento de que ela deve sofrer impedimento, que seu
governo é corrupto, etc. etc. etc. Eleitores de Aécio Neves, do PSDB, e de Marina
Silva, do PSB (até quando?), que se sentem derrotados nas últimas eleições,
certamente serão a totalidade ou a quase totalidade dos “manifestantes”.
Num País que viveu por
décadas debaixo da chibata e da tortura impostas por governos militares; que
tanto lutou pela redemocratização; que viu filhos seus serem exilados no
exterior por suas posições políticas; que até hoje sofre com os efeitos
colaterais do “milagre econômico”, finalmente chegamos a um estágio em que se
permite, sem repressão, manifestações pacíficas.
Num País que já teve os
escândalos do próprio “milagre econômico”, dos militares; dos “Anões do
Orçamento”; da aquisição de votos para a prorrogação do mandato de presidente
de José Sarney (PMDB); do grande número de concessões para a instalação de
emissoras de rádio e televisão para políticos quando foi preciso emendar a
Constituição Federal a fim de se garantir o projeto de reeleição de Fernando
Henrique Cardoso (PSDB); do “Trensalão” de São Paulo, iniciado ainda no governo
de Mário Covas, passando por José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB; da “Privataria
Tucana”, de Fernando Henrique Cardoso; do caso SIVAM, também do governo de FHC
(PSDB); do afundamento, no mar, da Plataforma P-36, também no governo de FHC
(PSDB); do famoso “Rabo de Palha”, do então governador do Rio Grande do Norte e
hoje Senador da República José Agripino Maia (ex-Arena, PDS, PFL e agora DEM); da
acusação de propina de mais de um milhão de reais supostamente paga a José
Agripino Maia (DEM), ainda recentemente; do aeroporto que Aécio Neves (PSDB),
enquanto governador de Minas Gerais, construiu em terreno de parentes seus e
lhes deu as chaves, como se o aeroporto fosse particular e não público; do “Mensalão
do PSDB mineiro”, que recebeu tratamento diferenciado do “Mensalão do PT” e
caminha para a impunidade absoluta; do “Mensalão do DEM do Distrito Federal”,
que tirou José Arruda (DEM), ex-governador do Distrito Federal, da vida
pública; e de vários outros escândalos, querem agora fechar os olhos para tudo
isso e, alicerçados numa falsa moral e numa hipocrisia tremenda, pretendem tirar
do poder quem a ele foi conduzido pela maioria do povo brasileiro.
A imputação de
corrupção na Petrobrás, que vem desde os tempos de Fernando Henrique Cardoso,
serve de combustão – sem trocadilhos – a uma grande parte da parcela mais
abastada economicamente da sociedade brasileira para ir às ruas contra uma
presidente que, muito mais que eleita pela vontade popular, está entre as
pessoas que mais lutaram contra a tirania do regime militar, que, a propósito,
tinha defensores do naipe do senador José Agripino Maia (DEM), do falecido
senador Antônio Carlos Magalhães (DEM) e do ex-vice presidente da República
Marco Maciel (ex-Arena, PDS, PFL e DEM), que foi companheiro de chapa e de
governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Porém, na verdade, o que
incomoda mesmo a uma significativa parcela de poderosos pelo mundo afora é a
descoberta de petróleo na camada pré-sal brasileira. Em várias partes do mundo,
há países que só têm como fonte de riqueza a extração do petróleo e seus
derivados. Outros, como os Estados Unidos da América, são mais dependentes do
petróleo que a maioria do restante do mundo. Nos EUA, por exemplo, cerca de
vinte e cinco por cento do petróleo produzido no mundo é ali consumido,
diariamente.
A real possibilidade de
o Brasil se tornar o maior magnata do petróleo incomoda muita gente, aqui e lá
fora. Isso recolocará o Brasil noutro patamar de visibilidade no cenário
mundial e o fará protagonista, jamais mero coadjuvante, nas questões econômicas
e, por consequência, noutras questões internacionais. E isso não é admitido
pelos poderosos ligados à atividade petrolífera nem por governantes de países ricos.
Internamente, a correta
distribuição das riquezas do petróleo do pré-sal, com maior investimento em
educação e noutras áreas sociais, pode significar o declínio por completo da
direita brasileira (até lá, o DEM provavelmente já terá deixado de existir,
pois José Agripino Maia caminha para fechar a sua legenda), pois essa ação será
fruto do trabalho de governos democráticos e populares.
Contra tudo isso, mas
sem saberem de tudo isso, muitos irão às ruas. Sem saberem, estarão empunhando
bandeiras que nem imaginam. Mais uma vez serão usados, como se deu durante o
Brasil Império, quando a Inglaterra, potência industrial da época, temia a
concorrência da indústria do Paraguai, que era uma realidade. Alguns trocados e
alguns favores para Brasil, Argentina e Uruguai levaram esses três países a
declararem uma guerra – sem outro motivo real, embora a História oficial conte
diferente – contra o Paraguai, que ficou devastado e teve destruído o seu
parque industrial.
Pegando carona no
argumento de combate à corrupção, o PSDB de Aécio Neves e Fernando Henrique
Cardoso e seus aliados estimulam os “protestos”, querendo inventar um terceiro
turno das eleições presidenciais, que constitucionalmente só tem no máximo dois
turnos.
Também fecham os olhos,
políticos e “manifestantes”, para a dura realidade econômica que vive o mundo.
O poderoso Estados Unidos da América somente agora dá sinais de revitalização
na sua economia. Na Europa, a Grécia e Portugal estão literalmente quebrados em
suas economias. Outros países europeus, como a Espanha, também passam por anos seguidos
de recessão, desemprego e fragilidade na economia. O Brasil não ficaria
eternamente imune a esses eventos econômicos devastadores.
Mas, os homens e
mulheres da direita não querem saber disso, e o momento é de tirar proveitos
eleitoreiros do difícil momento econômico brasileiro, que apesar de tudo ainda
anda longe de ser a bancarrota que se vê em muitos países da Europa.
Devidamente aparelhada
por seus porta-vozes, tipo Rede Globo de Televisão e outros veículos que lhe
servem diariamente, a direita brasileira prega o ódio, a divisão, a
fragmentação do corpo social, como se houvesse a necessidade e a possibilidade
de se ter dois “Brasis”.
O cenário político da
América Latina também preocupa os conservadores daqui e de fora. Pelo voto,
políticos de esquerda foram eleitos e empossados presidentes de várias
Repúblicas latino-americanas. Se não foi possível manter por mais tempo as
negras ditaduras militares que (des)governaram quase toda a América Latina pela
maior parte da segunda metade do século passado, a tentativa agora é fragilizar
esses governos populares, pois eles atrapalham o projeto neoliberal de países
como Estados Unidos da América – principal apoiador das ditaduras militares de
um passado recente nessa parte da América -, projeto esse que tem por aqui seus
representantes.
Então, por tudo isso, a
hora é de estimular o povo a sair às ruas. Todos, porém, não vão inconscientes.
Grande parte deles tem mesmo ojeriza a pobres e à realidade de melhoria de vida
para os mais necessitados.
Outros, que não
suportam um empurrão de soldado de polícia, bradam irracionalmente que desejam
a volta do regime militar. Nunca viveram esse terror, e em dois tempos de sua
instalação estariam arrependidos de o terem defendido.
De qualquer forma, viva
a democracia brasileira! Mas, por favor, não a queiram destruir!
Um comentário:
Ei, amigo.
Palavras bonitas não põe comida na mesa.
O Brasil está protestando contra todas as mentiras, infâmias e terrorismo usadas pelos políticos do PT.
Se pelo menos metade do que foi prometido tivesse sido cumprido, estavamos satisfeito.
Até quem votou a favor, hoje está contra.
Voces sempre vem com esta conversa de ditadura, chibata, etc.
Postar um comentário