Protestos: da legalidade do ato aos abusos cometidos; da
motivação apresentada e da causa propositadamente esquecida
Alcimar Antônio de Souza
Às vésperas da Copa do Mundo a ser realizada no Brasil e em
ano de eleições, os protestos voltam à cena e às ruas de várias cidades do
País. Velhas – e justas – bandeiras são novamente empunhadas: mais saúde, mais
educação, mais segurança pública, melhorias no transporte público, transparência
na gestão dos recursos públicos, e por aí segue.
Muitos voltam às ruas espontaneamente, conduzidos pelo
espírito de cidadania que lhes acomete. Outros, nem tanto: são levados mediante
pagamento ou outra forma de “estímulo” ao exercício da democracia; e outros vão
apenas para que se tire do movimento das ruas um proveito político-partidário.
De qualquer forma, os protestos são justos e aceitáveis numa
democracia. Mas é justamente essa democracia que veda o vandalismo, a
depredação do patrimônio público e privado, a violência que leva até a morte,
como foi o caso do cinegrafista Santiago Andrade, morto em protestos de rua por
quem não foi ali protestar pacificamente.
A violência gerada pela onda de protestos, por sinal, agride
frontalmente não apenas a democracia, mas também uma das bandeiras dos
manifestantes, que é a de melhor aplicação dos recursos públicos. Ora, com
tantos atos de vandalismo, o patrimônio público é danificado e destruído em
atos que mais se assemelham à barbárie. E, para repor esse patrimônio, cifras
gigantescas de recursos públicos serão utilizadas. E então se gasta para
reconstruir o que já estava construído mas foi violentamente destruído.
Outra particularidade de todos os protestos realizados nas
urbes brasileiras é o proposital esquecimento de uma das causas que poderia
compor o rol de reivindicações, talvez a mais nobre de todas no atual contexto
social brasileiro: a da luta contra a venda e o uso de drogas.
Infelizmente, não se vê em qualquer manifestação uma só
bandeira, não se ouve um só grito, uma só voz que se posicione contra a venda e
o consumo de drogas. E a explicação para isto até já nos foi apresentada por um
conceituado jornalista potiguar, além de ser um óbvio ululante, como diria o
amigo Niécio Roldão: muitos dos manifestantes – graças a Deus é apenas uma
parte deles, mas uma parte significativa – são usuários de algum tipo de droga
ilícita, e jamais iriam levantar a voz contra a venda e o consumo de drogas.
Do contrário, esses manifestantes, usuários de entorpecentes,
preferem engrossar as filas das muitas “marchas da maconha”, que defendem a
abolição da proibição da venda da diamba, ideia que, infelizmente, também é compartilhada
por alguns políticos deste País.
Em nome da menor parcela de manifestantes que faz uso de
algum tipo de entorpecente, a maior parte dos cidadãos que protestam deixa de
se posicionar nas manifestações de rua contrariamente à ação devastadora das
drogas, principalmente o crack, que vem dizimando as famílias brasileiras e
causando estragos imensuráveis no vasto e complexo tecido social pátrio.
Os motivos para que os protestos também incluam em suas
bandeiras de reivindicações a luta contra as drogas são muitos, a começar pela
paz nas famílias, abalada profundamente pelo crescente uso de entorpecentes.
E, protestando contra as drogas, os manifestantes das ruas
também estarão reforçando a defesa por suas causas. Se querem mais qualidade no
serviço público de saúde, tenham a certeza que este serviço melhorará
profundamente quando houver uma queda acentuada no número de dependentes
químicos, que aumentam as despesas do Estado com tratamentos diversos, nem
sempre eficazes no combate ao problema.
Os hospitais e unidades de pronto-atendimento também terão
que atender diariamente menos pessoas que lhes chegam à beira da morte,
atingidas na crescente guerra social travada a partir da venda e do consumo de
drogas. E isso representará contenção de despesas na área de saúde e
perspectiva real de melhor atendimento nas unidades públicas de saúde.
A educação também terá melhorias no dia em que a venda e o uso
de drogas ilícitas forem melhor combatidos. A evasão escolar, por exemplo, será
significativamente menor. E também não continuaremos a ver as cenas deploráveis
de pessoas inocentes sendo mortas ou agredidas dentro das escolas e
universidades por usuários de drogas ou mesmo traficantes.
Com menos usuários de entorpecentes, cairão por mais da
metade os índices da violência que atualmente faz prisioneiro o cidadão de bem.
Mortes por “acerto de contas” e os crimes contra o patrimônio – furto, roubo e
latrocínio -, muitas vezes praticados para o fomento à atividade do consumo de
drogas, despencarão nas estatísticas da violência. E então estaremos melhorando
o nosso serviço público de segurança.
É claro que a luta contra as drogas, uma vez tomada como luta
social e das manifestações de rua, não será motivo único para que melhoremos
nossos serviços públicos mais essenciais. Logicamente, esses serviços também
requerem, independentemente disto, maior atenção e mais investimentos por parte
do Poder Público, nas suas três esferas de atuação (União, Estados e
Municípios).
No entanto, no dia em que as manifestações de rua incluírem
nos seus pleitos o de maior combate ao tráfico e ao uso de drogas, daremos um
importante passo para resolver o problema, que não é apenas dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, mas de toda a sociedade brasileira.
Não adianta reclamarmos da ineficiência na prestação dos
nossos serviços públicos se propositadamente nos omitimos de levantar a voz
contra um fato social que diretamente contribui para o agravamento desses
serviços.
Também não adianta irmos às ruas conduzidos por oportunismos de
uns poucos, levados por pessoas e grupos interessados apenas em causar um fato
social e político que atenda a fins diversos que não seja o de melhoria da vida
dos brasileiros.
Menos ainda adianta o protesto contaminado pela violência e
pelos atos de absoluta falta de civilidade. Violência só gera violência e não
interessa a ninguém.
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