De fingimento e de
resignação coletiva
Em conversa informal,
um amigo arrematou, após alguma discussão sobre o tema: “Em campanha, Robinson
disse que seria o governador da segurança e o Estado está desse jeito. Se ele
tivesse dito que seria o governador da educação, certamente algumas escolas já
teriam ido ao chão”.
É bem verdade que o
Estado também não investe o necessário no ensino público, e não tem políticas
educacionais capazes de melhorar a vida de nossa gente, e isso certamente
explica em grande parte o que vem ocorrendo nessas terras dos potiguaras em
matéria de (falta de) segurança pública. Mas, por ora, vamos nos ater a esse tema
– segurança pública -, mais em evidência diante dos rotineiros fatos.
O que estamos
assistindo no Rio Grande do Norte – e a palavra é esta mesmo, assistindo, sem nada fazer – é uma grave
demonstração de absoluta falta de eficiência e de planejamento por parte de
quem comanda a segurança pública. Definitivamente, o Estado parece ter perdido
o controle de tudo.
Dia a dia, os jornais,
as emissoras de rádio e televisão e os blogues e portais de notícia relatam
situações que atestam a total ineficiência do Estado norte-rio-grandense no
trato da questão.
Não se trata apenas da
trombeteada falta de recursos financeiros. O xis da questão vai mais além. Faltam planejamento, ações, atitudes,
vontade de fazer. E não nos referimos aqui aos agentes de segurança em si, que
já trabalham nos seus limites e em situações cada vez mais precárias. A crítica
vai para quem efetivamente tem o poder de decisão, lá no topo da hierarquia
funcional estatal.
De repente caímos num
enorme fingimento social, em que o Estado finge que nos garante segurança
pública e nós, cidadãos, fingimos que temos o serviço.
Nesse fingimento de
parte a parte, estamos diante de um enorme e coletivo comodismo. Votamos em
deputados federais, deputados estaduais e senadores da República, mas sequer
temos a coragem de exigir publicamente que esses nossos representantes usem suas
pomposas tribunas para levantarem a voz em favor de nossas preocupações, das
quais, a maior e mais alarmante, sem dúvidas é a da falta de segurança.
Não vamos às ruas
entoar a nossa voz e nada dizemos a respeito do assunto. Quando muito, fazemos lamentações
diárias e quase silenciosas diante de cada novo assalto, de cada nova tomada de
uma cidade por horas a fio por grupos armados, diante de cada situação que evidencie
ainda mais que temos somente a Deus para pedir socorro.
Quando o Estado destina
para cuidar do policiamento ostensivo de um Município qualquer – por menor que
seja, já serão de três, quatro, cinco mil habitantes – apenas dois policiais
por dia de serviço, ele está dizendo escancaradamente que estamos entregues à
própria sorte, pois, exceto nas produções cinematográficas norte-americanas,
uma fábrica de heróis da ficção, dois agentes de segurança pública, por mais
preparados que sejam, jamais terão como garantir a ordem, a tranquilidade e a
paz social.
E o que fazemos diante
disso? Assistimos, conformamo-nos, resignamo-nos, pacientes e assustados, mas
pacientes. Nossa murmuração tem o som do watts
app, pois nos queixamos apenas de contato para contato, de grupo para
grupo, mas de concreto nada fazemos.
Calma, sei que a culpa
pelo que está acontecendo aí não é diretamente nossa. Ela também não é toda do
atual governador Robinson Faria, que, mesmo prometendo ser o governante da
segurança, apenas deu sequência a uma falta de políticas públicas herdadas de
governos anteriores, dos quais ele ou participou ativamente ou apoiou
politicamente.
Mas, se quisermos fazer
algo de concreto por nós mesmos, precisamos sair desse comodismo perene para,
ao menos, termos uma voz ouvida pelas autoridades.
Rapidamente esse Estado
necessita de maior efetivo da Polícia Militar, de maior número de membros da
Polícia Civil, de mais servidores do Instituto Técnico-Científico de Polícia -
ITEP e de muito mais agentes penitenciários. Rapidamente esse Estado precisa
dar uma resposta forte e eficaz a quem preferiu caminhar do outro lado da lei.
Rapidamente esse Estado precisa dizer ao cidadão que o tributo por ele pago
serve ao menos para lhe garantir minimamente o direito constitucional de ir e
vir, já que saúde e educação de qualidade são outros sonhos distantes.
Infelizmente, o
aparelhamento estatal para combater a falta de segurança é mínimo e até
dissonante, em parte, da realidade social moderna. Literalmente o crime se
organizou, ao passo que o Estado entrou num faz-de-conta
do qual não quer mais sair.
Que educação, saúde,
assistência social e inclusão social são remédios de médio e longo prazo para
um combate efetivo da violência, disso nós sabemos. Mas, por ora, estamos
querendo apenas poder ir à padaria com a certeza de que voltaremos para casa com
o pão da família.
Alcimar Antônio de
Souza
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