Quando os Pinóquios fabricam os Neros
De quatro em quatro anos, a cada campanha eleitoral geral, os
candidatos ao cargo de governador do Rio Grande do Norte prometem tudo,
apresentam soluções para todos os problemas, divulgam propostas milagrosas e
iludem o eleitorado, que acredita em seu consciente que a vida, finalmente, irá
melhorar.
Para não voltarmos muito distante no tempo – não que os
outros candidatos-eleitos não mereçam uma análise de suas campanhas e de seus
governos -, vamos regredir apenas a outubro de 2010, quando Rosalba Ciarlini
Rosado e Robinson Faria eram candidatos a governador e vice-governador,
respectivamente, apoiados por Garibaldi Alves (pai e filho), Henrique Alves,
José Agripino Maia, Felipe Maia, Walter Alves e todos os demais caciques e
filhos de caciques da política norte-rio-grandense.
A dupla Ro-Ro, Rosalba e Robinson, prometeu solução para
tudo, inclusive para a falta de segurança pública. Mas, depois da eleição, o
que se viu foi justamente o contrário de tudo o que foi prometido nas ruas.
Na prática, o governo de Rosalba foi o desastre que já
conhecemos, e na área de segurança pública não foi diferente. Apenas para se
exemplificar, vale relembra que milhões de recursos federais aportados aqui,
para investimento pesado na área de segurança pública, retornaram à origem sem
destinação, sem uso, como se o Estado potiguar não precisasse de tão vultosa
quantia.
Veio a campanha eleitoral de 2014. Os mesmos caciques e
filhos de caciques da política potiguar que haviam apoiado Rosalba Ciarlini há
quatro anos atrás não mais a queriam como candidata ao governo do Estado. Deixaram-na
sozinha. Nem mesmo o seu então partido, o Democratas, lhe garantiu o direito à
reeleição, fato até então nunca visto na história política do Rio Grande do
Norte. Se tudo não passava de jogo de cena, o palanque de Rosalba Ciarlini na
disputa pela Prefeitura de Mossoró agora em 2016 responderá ao menos em parte.
Fato é que, sem apoio e sem legenda partidária, Rosalba
enterrou o seu projeto de reeleição, e aquele mesmo grupão de pais e filhos
migrou para apoiar o eterno deputado federal Henrique Alves, agora candidato ao
cargo de governador do Rio Grande do Norte. A ex-governadora Wilma de Faria,
ex-Wilma Maia, que um dia “ensaiou” um grito de independência dos dois grupos
mais tradicionais da política potiguar, retornou ao grupão, ou acordão, para
também apoiar Henrique Alves, tentando ser eleita senadora da República, no que
não conseguiu êxito, eis que foi derrotada nas urnas pela então deputada
federal e hoje senadora Fátima Bezerra.
No outro lado, apresentando-se como o “novo” – sem o ser -,
Robinson Faria, que havia feito beicinho e rompido com Rosalba em meados da gestão
administrativa estadual passada, lançou-se e passou a fazer propostas, apontando
soluções no grosso e no atacado para os muitos problemas do Estado do Rio
Grande do Norte.
Na área de segurança pública, Robinson foi enfático: “Serei o
governador da segurança”.
Eleito Robinson e passados quase dois anos de seu mandato,
Robinson, a exemplo de Rosalba e de outros governantes potiguares, mostrou-se
sem competência e sem vontade política para resolver os problemas que afligem o
povo norte-rio-grandense.
Em matéria de segurança pública, então, a situação numa
pareceu tão preocupante quanto agora. A ferida, que era profunda, sangrou de
vez. O problema, que era gravíssimo, tomou proporções inimagináveis. O Estado
literalmente pegou fogo.
Recordista em troca de secretários e outros auxiliares
diretos, o governo de Robinson Faria é um caos. No Estado, multiplicam-se os fora-da-Lei
que tocam fogo em tudo, destruindo o patrimônio público, o patrimônio privado
e, sobretudo, a nossa esperança de que um dia poderemos voltar a viver em meio
a uma razoável tranquilidade social.
Numa das trocas de comando geral da Policia Militar, já no
governo de Robinson Faria, o novo comandante disse à imprensa e ao povo
potiguar: “Vamos trabalhar para que o cidadão possa de novo sentar-se na sua
calçada de casa”. Mero jogo de palavras, mera venda de ilusão, para quem não
mais se ilude.
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, que pretende
fechar Comarcas sob a alegativa principal de ter que fazer economia, agiu na
contramão do que disse e emprestou ao Poder Executivo estadual a gigantesca
cifra de 20 milhões de reais para que a Administração Estadual construa novas
unidades prisionais e amenize assim o problema da superlotação carcerária. O Poder
Executivo, que tem à frente o “governador da segurança”, até agora não disse o
que fez nem o que fará com tanto dinheiro.
Enquanto isso, o sistema prisional, composto de penitenciárias,
cadeias públicas e centros de detenção provisória, registra fugas em massa
quase que toda semana.
Incompetente para fazer barrar a entrada de celulares nos
presídios estaduais, o “governador da segurança” mandou instalar bloqueadores
de sinal de telefonia móvel na Penitenciária Estadual de Parnamirim – PEP, fato
que tem sido apontado pelo Governo do Estado como a causa para o doloroso e
trise espetáculo de pirotecnia visto em terras potiguares.
Nesse ponto, há de se fazer uma reflexão: quando o Estado
decide instalar bloqueadores de sinal de celular em unidades prisionais está
admitindo que não dispõe de forças para fazer o mais fácil, que é a entrada de
aparelhos de celulares no seu sistema penitenciário.
Perdido, o governador potiguar recorreu ao Governo Federal,
que lhe mandou mais de mil militares das Forças Armadas para ajudar na
segurança pública do Rio Grande do Norte.
A falta de segurança, porém, vai mais além, e antecede a essa
onda de incinerações de bens públicos e privados. Em termos de estrutura de
prevenção e combate às formas de criminalidade, o Estado está literalmente
deficitário, impotente, sem capacidade de prestar ao cidadão um serviço de
qualidade.
Nesse sentido, basta que se diga que na quase totalidade dos
Municípios do interior do Rio Grande do Norte – exceto em uns poucos de tamanho
maior – a Polícia Militar dispõe apenas de três, dois e até um policial militar
de serviço por dia.
Polícia Civil é algo raro na imensa maioria dos Municípios
potiguares. Na prática, alguns poucos delegados de Polícia Civil são
responsáveis pelo trabalho em várias Delegacias.
O Instituto Técnico-Científico de Polícia – ITEP, braço
importantíssimo da Polícia Judiciária, vai de mal a pior, com poucos servidores
e estrutura precária.
No sistema prisional, agentes penitenciários estaduais
reclamam das péssimas condições de trabalho, e a estrutura física do sistema
como um todo é absolutamente carcomida, ultrapassada, pequena.
Em Municípios como Baraúna e Umarizal, em exemplos, assaltos
e homicídios acontecem em escalas assustadoras. Em quase todos os Municípios do
interior do Estado, agências do Correios e de bancos são explodidos com a
facilidade de quem rouba um doce de uma criança.
Em cidades menores como Patu e Messias Targino, os cidadãos
não podem mais sequer ficar em suas calçadas de casa para aquelas conversas de
fim de tarde ou início de noite. Meliantes em dupla ou em trio chegam em
motocicletas e levam celulares e outros pertences, fugindo em seguida com uma tranquilidade
de causar espanto.
O pior, como dito, parece ter chegado. O Estado arde em
chamas. De tantas mentiras dos políticos com nariz de Pinóquio, muitos se
arvoram da figura romana de Nero.
Que Deus nos proteja!
Alcimar Antônio de Souza