Aos pais, pelos filhos
Alcimar Antônio de
Souza
Eu tinha menos de cinco
anos quando minha mãe, Maria José de Souza, ou Maria do Junco, e meu pai, José
Antônio Filho, ou simplesmente Filho, vieram a se separar. Seguindo a regra do
que ocorre na imensa maioria das separações
de casais heterossexuais que têm filhos, fiquei sob a guarda da minha mãe, que
nunca me deixou faltar carinho, nem amor, nem também uma forte reprimenda,
estivesse eu efetivamente errado em alguma atitude, ou estivesse eu em alguma
atitude que ela considerasse errada.
Pessoa de pouca
instrução, minha mãe teve alguns gestos, em relação ao meu pai, que considerei
dos mais nobres. Deixando de lado o sentimento negativo que ela tinha por ele,
nunca falou mal dele para mim e vez por outra me levava, a cada dois ou três
anos, para ir encontrar meu genitor, que morava no agradabilíssimo Município de
Jaçanã, na região do Trairi potiguar.
Durante as viagens, a
minha imaginação de criança se encantava com os cenários do sertão que me
apareciam da janela do velho Jardinense, a partir do Médio Oeste potiguar,
atravessando o Seridó norte-riograndense até chegar ao Trairi. A subida da
serra, a partir de Santa Cruz, passando por Coronel Ezequiel, com forte mudança
da vegetação, também me enchia de satisfação.
Além do meu pai, eu
encontrava ali, com acolhida sempre inesquecível, minha avó Sebastiana, meus
tios e tias, primos, primas e outros parentes. Quando do retorno para Messias
Targino, distante mais de trezentos quilômetros do lugar onde morava meu pai,
chorávamos todos (eu e alguns familiares meus de lá), numa antecipação de
saudade que, geralmente, passava a habitar nossos corações pelos anos
seguintes, até a data da próxima viagem.
Quando eu tinha
dezesseis anos, recebi a triste notícia que meu pai havia morrido, vítima da ação de alguém mal
intencionado, que lhe tirou a vida quando ele gozava de plena saúde.
Mesmo criado distante
do meu pai na maior parte do tempo, dois fatos praticamente iguais porém ocorridos
em momentos distintos ainda ecoam na minha memória, para me mostrar o quanto
esse traço genético e familiar tem importância em nossas vidas, de filhos. Lá
em Jaçanã, indo para a casa da minha avó Sebastiana (de saudosa memória), uma
pessoa que nunca tinha me visto abordou-me com essa indagação quase afirmativa:
“Você é filho de Zezinho?”. Zezinho era a forma como ele era conhecido lá na
região do Trairi.
Noutro dia, passando
por Caraúbas em missão de trabalho, dei carona a um policial militar da
reserva, a quem também eu nunca tinha visto. Apresentações feitas e conversa
estabelecida, ele me disse que trabalhou há muitos anos atrás na Companhia de
Polícia Militar de Patu. Foi quando eu informei que meu pai tinha sido policial
e também havia trabalhado na mesma unidade, sem porém lhe dizer o nome. E ele
então me fez a mesma pergunta: “Você é filho de Filho?” Filho era o nome de
guerra do meu genitor na corporação militar.
Nesses dois momentos
enxerguei claramente que o pai é sempre uma referência singular na vida de um
filho, mesmo quando os dois não convivem diariamente, mesmo quando
circunstâncias e fatos diversos os colocam geograficamente distantes. Para mim,
que por essas bandas me tornei conhecido como Alcimar de Maria do Junco, ter
meu nome associado de forma tão objetiva ao meu pai foi algo muito bom.
Trouxe-me uma reflexão muito ampla do sentido dessa relação que se estabelece
ou deveria se estabelecer entre pais e filhos.
Com o tempo a vida me
proporcionou alguns filhos, a quem amo de coração, inclusive porque fisicamente
eles carregam a minha carga genética muito fortemente.
Autobiografia? Não. Nem
tanto. Deu mesmo foi uma vontade enorme de falar de pais e filhos nessa data
que, embora tenha conotação comercial, impõe-nos uma reflexão a respeito do
tema, pois infelizmente apenas somos levados e melhor refletirmos sobre dados
assuntos quando nos aparecem essas datas comemorativas.
Se criaram o Dia das
Mães, o Dia do Amigo, o Dia dos Avós, nada mais justo que também existisse o
Dia dos Pais. Comercial ou não, a data nos leva a enxergarmos – se ainda não
vimos – que nossos pais são e serão sempre uma boa referência em nossas vidas,
mesmo que não tenham feito parte dela em alguns casos ou em alguns momentos.
Pai, mãe: ambos são
muito importantes na nossa formação, na nossa educação e em nossas conquistas.
Se a mãe geralmente é a figura mais lembrada na vida dos filhos, há casos em
que os filhos (ou principalmente as filhas) se identificam até mesmo muito mais
com os pais do que com as mães. E não se trata de amar mais ao pai do que a
mãe. É uma inversão da ordem natural segundo a qual os filhos tendem a se
relacionar mais estreitamente com as mães.
Tudo isso foi dito para
que eu preste uma justa homenagem a meu pai, Filho ou Zezinho, já falecido. Embora
tenhamos convivido separados por uma grande distância geográfica, o tempo me
fez enxergar que ele fez muita falta na minha vida.
Tudo isso foi dito
também em nome de alguns filhos e filhas que conheço, que amam seus pais
desmedidamente, e por eles são capazes de atitudes diversas, das mais simples
às mais nobres.
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