Mais um
boato cretino
Crispiniano Neto
Às vésperas de completar 59 anos de idade, a vasta
experiência de vida não me permite embarcar em teorias conspiratórias, tampouco
me permite deixar de sentir o cheiro de maracutaia em muitas “acontecências”
que parecem inocentes ou casuais, mas que no fundo têm montagens, as mais
sórdidas, lhes respaldando.
Não faz tempo, tivemos um tumulto em Minas Gerais,
quando de um surto de febre amarela. A imprensa, de maneira irresponsável e
desonesta passou a divulgar freneticamente que as vacinas estavam vencidas ou
tinham pouca capacidade imunizatória. Algumas pessoas correram a tomar uma
segunda dose, e, se não me engano alguém chegou a tomar três. Uma mulher morreu
diante da reação, pois como se sabe a vacina é o micróbio da própria doença
inoculado em quantidade pequena, suficiente apenas para provocar a reação do
organismo, a ponto de criar resistência à doença. Passando disto, o que
acontece é a infecção que se queria evitar. E assim foi. Tão grande tornou-se a
dose nesta repetição, que a mulher morreu.
Há menos de dois anos, o Brasil
assistiu, estupefato, uma correria às agências da Caixa Econômica Federal, pois
se falava aos quatro ventos que o Programa Bolsa Família estava pagando sua
última mensalidade e que em seguida iria ser extinto. Um erro de comunicação
seguido de uma ação intencional da imprensa, causando pânico, de forma
irresponsável e criminosa.
Quando o governo Lula aumentou tributou para grandes
depósitos em poupança, coisa que só atingiu poupadores muito ricos, a imprensa
mais uma vez cumpriu a tarefa desonesta de dizer que havia voltado o confisco
ao modo da era Collor.
Ano passado, o prefeito paulistano Fernando Haddad fez
uma remodelação no IPTU em que os mais ricos, proprietários de imóveis de
altíssimo valor venal passaram a pagar um pouco mais, visto que recebem bem
mais benefícios públicos nas áreas de luxo da cidade onde se encontram
instalados. Já os pobres tiveram o IPTU reduzido, com centenas de milhares
deles ficando isentos. O trabalho da mídia foi tão cretino que estes pobres
beneficiados com a isenção ficaram contra o projeto.
Vi na Câmara Municipal de
Mossoró quando o então secretário de Recurso Hídricos, Rômulo Macedo veio
apresentar o projeto da Adutora Assú-Mossoró colegas da imprensa local,
ouriçadíssimos. Eram rosalbistas e saíram histericamente gritando: “Temos que
detonar essa adutora, pois se ELA for feita Garibaldi não perde mais eleição
em Mossoró”. E daí nasceram os boatos, até de que iríamos tomar refresco de
defunto do cemitério de São Rafael. Uma campanha sórdida, que mudou da água
poluída para o Old Parr, quando Rosalba aderiu ao governo e passou a ser “a
senadora de Garibaldi” nos palanques. Logo ele voltou a ser o “governador das
águas”.
Quem não se lembra de Luiz Colombo Pinto, um homem de muita grandeza de
caráter, sendo pintado como “o rei do baralho” numa emissora do sandrismo,
porque estava se candidatando a prefeito. E João Batista Xavier, o grande
professor de Filosofia e ex-seminarista mostrado a Mossoró como “iconoclasta”,
o quebrador de imagens da Catedral e das catacumbas do Cemitério de São
Sebastião. E a molecagem de tratar um jovem médico como “comedor de fígados de
crianças”, só porque era um profissional de alto nível e, tendo se ligado a uma
família política adversária dos Rosados, tinha potencial para ser prefeito ou
disputar uma vaga de deputado no futuro próximo.
Esta é “a indústria do boato”.
Lá e cá. Querem entender melhor, leiam “Murro na Cara”, livro sobre as
campanhas políticas dos Estados Unidos. É essa indústria do boato, da
bandalheira, da canalhice que está no ar, com mais uma edição, agora
espalhando, de novo, um confisco da poupança.
E ainda tem quem ache que a mídia
não precisa de regulação, coisa absolutamente diferente de censura, pois
censura é o que fazem atualmente dirigentes de veículos de comunicação a
serviço do golpismo como a diretora do conglomerado Globo de Comunicações que
proibiu de vincular o nome de FHC ao Lava Jato mesmo diante da contundente
denúncia de Pedro Barusco, dizendo que foi no governo dele que a corrupção
tornou-se sistêmica na Petrobras.
Crispiniano Neto é agrônomo, bacharel em Direito, jornalista, poeta e escritor.
Fonte: www.crispinianoneto.blogspot.com.br
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