domingo, 15 de fevereiro de 2015

Opinião

Mais um boato cretino

Crispiniano Neto

Às vésperas de completar 59 anos de idade, a vasta experiência de vida não me permite embarcar em teorias conspiratórias, tampouco me permite deixar de sentir o cheiro de maracutaia em muitas “acontecências” que parecem inocentes ou casuais, mas que no fundo têm montagens, as mais sórdidas, lhes respaldando.

Não faz tempo, tivemos um tumulto em Minas Gerais, quando de um surto de febre amarela. A imprensa, de maneira irresponsável e desonesta passou a divulgar freneticamente que as vacinas estavam vencidas ou tinham pouca capacidade imunizatória. Algumas pessoas correram a tomar uma segunda dose, e, se não me engano alguém chegou a tomar três. Uma mulher morreu diante da reação, pois como se sabe a vacina é o micróbio da própria doença inoculado em quantidade pequena, suficiente apenas para provocar a reação do organismo, a ponto de criar resistência à doença. Passando disto, o que acontece é a infecção que se queria evitar. E assim foi. Tão grande tornou-se a dose nesta repetição, que a mulher morreu.

Há menos de dois anos, o Brasil assistiu, estupefato, uma correria às agências da Caixa Econômica Federal, pois se falava aos quatro ventos que o Programa Bolsa Família estava pagando sua última mensalidade e que em seguida iria ser extinto. Um erro de comunicação seguido de uma ação intencional da imprensa, causando pânico, de forma irresponsável e criminosa.

Quando o governo Lula aumentou tributou para grandes depósitos em poupança, coisa que só atingiu poupadores muito ricos, a imprensa mais uma vez cumpriu a tarefa desonesta de dizer que havia voltado o confisco ao modo da era Collor.

Ano passado, o prefeito paulistano Fernando Haddad fez uma remodelação no IPTU em que os mais ricos, proprietários de imóveis de altíssimo valor venal passaram a pagar um pouco mais, visto que recebem bem mais benefícios públicos nas áreas de luxo da cidade onde se encontram instalados. Já os pobres tiveram o IPTU reduzido, com centenas de milhares deles ficando isentos. O trabalho da mídia foi tão cretino que estes pobres beneficiados com a isenção ficaram contra o projeto.

Vi na Câmara Municipal de Mossoró quando o então secretário de Recurso Hídricos, Rômulo Macedo veio apresentar o projeto da Adutora Assú-Mossoró colegas da imprensa local, ouriçadíssimos. Eram rosalbistas e saíram histericamente gritando: “Temos que detonar essa adutora, pois se ELA for feita Garibaldi não perde mais eleição em Mossoró”. E daí nasceram os boatos, até de que iríamos tomar refresco de defunto do cemitério de São Rafael. Uma campanha sórdida, que mudou da água poluída para o Old Parr, quando Rosalba aderiu ao governo e passou a ser “a senadora de Garibaldi” nos palanques. Logo ele voltou a ser o “governador das águas”.

Quem não se lembra de Luiz Colombo Pinto, um homem de muita grandeza de caráter, sendo pintado como “o rei do baralho” numa emissora do sandrismo, porque estava se candidatando a prefeito. E João Batista Xavier, o grande professor de Filosofia e ex-seminarista mostrado a Mossoró como “iconoclasta”, o quebrador de imagens da Catedral e das catacumbas do Cemitério de São Sebastião. E a molecagem de tratar um jovem médico como “comedor de fígados de crianças”, só porque era um profissional de alto nível e, tendo se ligado a uma família política adversária dos Rosados, tinha potencial para ser prefeito ou disputar uma vaga de deputado no futuro próximo.

Esta é “a indústria do boato”. Lá e cá. Querem entender melhor, leiam “Murro na Cara”, livro sobre as campanhas políticas dos Estados Unidos. É essa indústria do boato, da bandalheira, da canalhice que está no ar, com mais uma edição, agora espalhando, de novo, um confisco da poupança.

E ainda tem quem ache que a mídia não precisa de regulação, coisa absolutamente diferente de censura, pois censura é o que fazem atualmente dirigentes de veículos de comunicação a serviço do golpismo como a diretora do conglomerado Globo de Comunicações que proibiu de vincular o nome de FHC ao Lava Jato mesmo diante da contundente denúncia de Pedro Barusco, dizendo que foi no governo dele que a corrupção tornou-se sistêmica na Petrobras.

Crispiniano Neto é agrônomo, bacharel em Direito, jornalista, poeta e escritor.

Fonte: www.crispinianoneto.blogspot.com.br

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