Marina Silva, a candidata da mudança, está em liquidação
Por Gustavo Castañon*, no QTMD?
Há um sentimento de mudança no ar. Doze anos de governo do PT
desgastaram o partido na opinião pública. É natural. As contradições
inevitáveis do exercício do poder, a relação com um congresso
fisiológico, os interesses contrariados, os acordos inerentes à
democracia, os escândalos. É mesmo surpreendente que chegue ao cabo
desse período ainda como o partido de um quarto dos brasileiros e tendo o
voto de metade deles.
Nesse cenário, surge a candidatura de Marina Silva, que encarna, sem
sombra de dúvidas, a mudança, como provarei com os links abaixo. A
começar pela mudança do cenário eleitoral. Depois de um suspeito
desastre de avião (que alguns acreditam se tratar de assassinato),
Marina assumiu o lugar de Eduardo Campos como a candidata do PSB à
presidência.
O compromisso de Marina com a mudança não é recente. Ele já se deixava
sentir quando ela mudou de religião há poucos anos, abandonando o
catolicismo de opção pelos pobres e abraçando o fundamentalismo da
Assembleia de Deus, que tem entre seus quadros Silas Malafaia e Marcos
Feliciano, e acredita que discursos inflamados e emissões vocais
desordenadas são manifestações do próprio Espírito de Deus.
Depois Marina mais uma vez mudou quando saiu do PT por ter sido
preterida na disputa interna do partido pela candidatura à presidência.
Desde então ela iniciou um processo de mudança de crenças políticas que a
tornou uma opção para os grandes meios de comunicação, os bancos e a
classe média alta.
Primeiro mudou-se para o PV, ganhou apoio do Itaú, finalmente concorreu à
presidência, perdeu, mas não desanimou. Tentou mudar o então partido
assumindo-lhe o controle, mas como não conseguiu, mudou de novo e tentou
criar a Rede. Também não conseguiu apoio suficiente para criar um novo
partido,e então mudou-se, de novo, para o PSB.
A ecologista aproveitou a mudança e mudou-se para um apartamento em São Paulo, de um fazendeiro do DEM.
Num golpe de sorte, também mudou de ideia na última hora e não embarcou
com Eduardo no jato que o matou. Logo depois da tragédia, Marina mudou
do papel de vice para o de viúva, declarando ter sido consolada da morte
de Campos pela própria esposa dele. Com a má repercussão da declaração,
ela mudou de postura e apareceu sorridente em seu velório posando para
fotos ao lado de seu caixão.
E a mudança não parou mais. Mudou o CNPJ da campanha para não ser
responsabilizada pelas irregularidades do jato fantasma de sua campanha
nem indenizar as famílias atingidas pela tragédia. A pacifista mudou seu
compromisso da “Rede” que proibia os candidatos pela legenda de receber
doações de indústrias de agrotóxicos, de armas e de bebidas, e compôs
chapa com o deputado federal Beto Albuquerque, político integrante da
“bancada da bala”, financiada pela indústria bélica. Ele também é
financiado por fabricantes de bebidas e agrotóxicos.
E mais mudança veio com um programa de governo que contrariava toda a sua história.
Prometeu ao Brasil a volta da gestão econômica do PSDB. Mudou a sua
posição contrária à independência do Banco Central para garantir o apoio
dos bancos brasileiros.
Mais do que isso, prometeu mudar a legislação trabalhista promovendo a
terceirização em massa, e prometeu acabar com a obrigatoriedade de
função social de parte do crédito bancário,enterrando o crédito
imobiliário. Mas isso não era mudança suficiente. Depois de quatro
tuítes de Silas Malafaia mudou a mudança do programa e se declarou
contra o casamento gay.
Depois de um editorial do Globo, também mudou a sua posição sobre o
pré-sal, que prometera abandonar, e depois, mudou a posição sobre a
energia nuclear. Depois de uma vida de batalha contra os transgênicos,
Marina, pressionada pelo agronegócio, também mudou e afirmou que sua
posição histórica era uma “lenda”.
Mudou também sobre a transparência política. O ministro Palocci caiu por
não revelar os nomes das empresas que contrataram seus serviços antes
do governo. Mas ela, hoje candidata, se nega a dizer a origem de 1.6
milhões de seus rendimentos, e declarou um patrimônio de somente 135 mil
reais ao TSE. Uma senadora da República.
Finalmente, na semana passada, Marina mudou sua opinião sobre a tortura,
que antes considerava crime imprescritível, e passou a ser contrária a
revisão da lei de anistia.
Dois dias depois, ganhou o apoio do Clube Militar. Marina muda tanto que
acabou por declarar seu programa de governo todo em processo de
revisão. Isso é realmente novo na política. Ela é a primeira candidata
da história do Brasil que descumpre seu programa de governo antes de
chegar ao poder.
Por tudo isso, não restam dúvidas que Marina é a candidata da mudança.
Ela muda sem parar. Essa é sua “Nova Política”, uma mudança nova a cada
dia. Não é possível acompanhar a labilidade de seu caráter ou de sua
mente. Ou ela mente. Não importa. O que importa é que Marina representa a
mudança, a mudança de um Brasil aberto e tolerante para um Brasil refém
da intolerância fundamentalista, de um Brasil voltado para sanar sua
dívida com seu povo pobre para um Brasil escravo de seus bancos, de um
Brasil democrático para um Brasil mergulhado em crise institucional.
Por isso eu mudei também. Entrego essa semana meu pedido de desfiliação
do PSB e cerro fileiras contra essa terrível mudança que ameaça nosso
país. Não é possível submeter o Brasil a essa catástrofe. Marina Silva é
uma alma em liquidação. Por um bom acordo eleitoral vende qualquer
convicção. Mas aproveitem logo. Essa promoção é por tempo limitado.
(*) Gustavo Castañon é filiado ao PSB desde 2001. Doutor em Psicologia e
professor de Filosofia na Universidade Federal de Juiz de Fora.
Fonte: Revista Fórum via OLHAR MESSIENSE (www.olharmessiense.com)
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