Qual o seu cordão?
Alcimar Antônio de Souza
Noutros tempos, em que bicudo era bicudo de verdade e bacurau era bacurau puro sangue, as campanhas mal eram autorizadas pela Justiça Eleitoral e já ganhavam as ruas de todas as cidades do Estado do Rio Grande do Norte.
Não havia recanto onde a velha rivalidade não levasse eleitores às ruas, empunhando, além da paixão muitas vezes irracional, bandeiras e adereços de campanhas, puxados por locutores de voz invejável, para não se usar a expressão do poeta Jessier Quirino no poema "O matuto e o coroné" (clique aqui).
Nas campanhas político-partidárias de outrora, os lados eram bem definidos, e trigo e joio não se misturavam, embora cada lado achasse que era o trigo.
Cores de campanha eram duas, uma para cada lado. Na maioria das vezes, o vermelho encarnado simbolizava um lado e o verde abacate identificava o outro. Agora, cada coligação mais parece um arco-íris eleitoral, de tantas cores que carrega consigo.
Candidato a deputado que não tinha no Município o apoio do prefeito e do seu grupo, nem da oposição, não se intimidava: pegava seu carro de som, seu palanque previamente produzido sobre algum veículo maior (com aquela escadinha lateral para facilitar a subida) e rumava às praças e ruas daquele Município, passando logo em seguida para o próximo, e por aí seguia. A campanha fervia.
No entanto, agora, na era da comunicação fácil, da tecnologia exuberante, dos meios instantâneos de propagação da notícia, a campanha político-eleitoral parece nem ter começado na imensa maioria dos Municípios do interior do Estado. E de fato não começou, muito embora já esteja autorizada pela Justiça Eleitoral há algum tempo.
Exceto nas principais cidades do Estado (naquelas maiores e mais populosas), não há sinais de campanha eleitoral, como se ficassem de fora do processo eleitoral os Municípios de menor porte. Uma ou outra reunião aqui e acolá, a apresentação de candidatos tais em algum clube fechado ou na casa de alguma liderança, e só! Campanha mesmo, aquela de levar multidões às ruas, essa ainda está para chegar na maioria dos Municípios.
E nem sem pode falar que se trata de uma questão de economia, pois antes, as chapas majoritárias costumavam levar aos seus comícios as bandas mais festejadas entre os eleitores. Grafith acompanhava fulano, Impacto Cinco tocava nos comícios de beltrano, e por aí seguia.
E também havia uma despesa maior com camisetas, bonés e outros itens de campanha, agora proibidos - assim como as bandas - em campanhas eleitorais, o que, ao menos em tese, representaria uma diminuição nos custos.
Por enquanto, algumas lideranças ainda analisam em quem votar, principalmente na chamada chapa proporcional, que também tem variado bastante ante algumas decisões do Poder Judiciário, que excluiu do processo eleitoral alguns candidatos antes de eles serem testados pela vontade popular.
Se esse marasmo eleitoral é bom ou ruim, não se sabe ainda. O novo jeito de se fazer campanhas eleitorais terá avaliação futura e somente daqui a algum tempo se poderá afirmar se a democracia brasileira evoluiu, a ponto de dispensar a campanha apaixonada das ruas, ou as massas preferem o velho estilo "levante o braço quem está com...".
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