domingo, 26 de maio de 2024

Homenagem

NIZINHA, SINÔNIMO DE FAMÍLIA, AMOR E ACOLHIMENTO

A celebração da vida, com agradecimento a Deus e diante da família e dos muitos amigos, é algo espetacular, maravilhoso. E é isso que fazemos neste dia, no Sítio Jatobá, em agradecimento ao Pai Todo-Poderoso pela renovação do ciclo de vida de RAIMUNDA ANÍZIA ALVES, carinhosamente conhecida como DONA NIZINHA, ou, para os seus muitos sobrinhos e sobrinhas, simplesmente TIA NIZINHA.

NIZINHA é uma das muitas filhas do casal SIRINO ANDRADE NUNES e ANA MARIA FELIPE DE ANDRADE, que teve uma família numerosa, composta dos filhos FRANCISCO, RITA, MARIA, ANTÔNIO LISBOA (popular TUZINHO) e CÍCERO ROMÃO, o popular CIÇO ARROZ. Aos filhos biológicos de SIRINO e ANA ROSA se juntou TEREZA, criada pelo casal.

NIZINHA nasceu no dia 18 de maio de 1936. Casou-se com ARLINDO ALVES, conhecido servidor da REDE FERROVIÁRIA FEDERAL – RFFSA, amigo de muitas pessoas do trecho Caraúbas-Patu.

NIZINHA se casou com ARLINDO, que era de Caraúbas, e, depois de morarem nessa região, foram residir em Mossoró, mas sem nunca abandonarem as suas origens. Aliás, o amor pelo Sítio Jatobá, pela casa de seu pai SIRINO, foi marca de NIZINHA por toda a vida, e esse amor passou para o filho SÁVIO MARCELLUS, que volta e meia está no Sítio Jatobá, convivendo com familiares e revendo os muitos amigos.

O casal NIZINHA e ARLINDO teve os filhos SÔNIA MARIA DE ANDRADE ALVES, SÁVIO MARCELLUS DE ADRADE ALVES e ANDRÉ LUIZ DE ANDRADE ALVES, este último adotado ainda nos primeiros meses de vida.

Na dureza do sertão, uma criança de pouquíssima idade, do casal NIZINHA e ARILINDO, não resistiu a um acidente doméstico e morreu muito precocemente. Era uma época dificílima, de escassos recursos de saúde e de dificuldades ainda maiores.

Mas, dona de corações bondosos, que sempre guardaram um amor imenso, NIZINHA e ARLINDO criaram em sua casa ou receberam por longo tempo debaixo do seu teto diversos parentes, a maioria da família ANDRADE, e um ou outro da família de ARLINDO, que sempre apoiou NIZINHA em tudo.

GENECI ANDRADE, filha de GENTIL, foi criada como filha por NIZINHA e ARLINDO. Saiu da casa de NIZINHA apenas para se casar, depois de concluir a graduação.

ANTONIA DE FÁTIMA ANDRADE, filha de CIÇO ARROZ, também passou longo tempo na casa de NIZINHA e ARLINDO.

MARIA DÉLIA, da família de NIZINHA, foi outra parente criada como filha pelo casal NIZINHA-ARLINDO. Saiu da casa deste casal para se casar.

Outro também criado como filho foi TEOBALDO DE ANDRADE COSTA, filho de GENTIL ANDRADE. A mãe de TEOBALDO faleceu quando ele era ainda muito jovem, e, poucos dias após o sepultamento, NIZINHA o levou consigo, e lá ele ficou até concluir a graduação e se casar. Este, por sinal, assim como DÉLIA e GENECI, continua até hoje ajudando a cuidar da tia NIZINHA, em tudo o que ela precisa.

VANDILZA, parente de ARLINDO, foi outra pessoa que passou pela casa de NIZINHA, morando ali por algum período, sendo igualmente tratada como filha.

GEDILENE, neta de TUZINHO ANDRADE, foi outra que experimentou o acolhimento fraternal de NIZINHA e ARLINDO. Ela também morou lá, em Mossoró, por longo período.

JOANA DARC, esposa de DECA PEREIRA, igualmente gozou da acolhida carinhosa de ARLINDO e NIZINHA. Esteve lá para concluir o curso superior.

ANCHIETA ANDRADE, ÉMERSON (MERCINHO) e vários outros também passaram pela casa de NIZINHA e ARLINDO, em Mossoró, recebendo ali, além do teto e do alimento, um tratamento de muita dignidade, que só as pessoas de excelente coração podem oferecer.

NIZINHA tinha uma exigência para quem ia residir com ela: tinha que estudar. Ela fiscalizava de perto. Ia às escolas e procurava saber como estavam os alunos. Sabia que, além do acolhimento habitual, deveria deixar para eles o resultado explêndido da educação na vida das pessoas.

Dentro do contexto social da época, ARLINDO não era inicialmente um pretendente bem acolhido por SIRINO ANDRADE, que era contrário ao casamento. Era apenas ciúme de pai que não quer que a filha saia de casa. Mas o amor de NIZINHA por ARLINDO e vice-versa já estava maturado, já era visível.

Foi então que, sem a concessão inicial de seu pai para o casamento, NIZNHA adotou um procedimento comum na época: fugiu com ARLINDO, e os dois constituíram a belíssima família que conhecemos. Ela foi a uma novena na casa de JOAQUIM, e de lá foi com ARLINDO para a MOLHADA DA AREIA, onde os dois inicialmente fixaram residência, e onde inclusive nasceu a filha SÔNIA ANDRADE.

Depois, porém, diante da postura absolutamente correta de ARLINDO ALVES, SIRINO ANDRADE não apenas o aceitou como genro, mas o tinha na conta de um dos melhores. Os dois passaram a se relacionar com grande respeito e carinho.

CIÇO ARROZ e NIZINHA eram os filhos caçulas de SIRINO e ANA MARIA FELIPE. Talvez por isso fossem tão ligados.

Mas NIZINHA nunca demonstrou preferência por qualquer dos irmãos. Sempre tratou com muito carinho a todos, estendendo esse amor aos parentes que, em algum momento da vida, precisaram do seu acolhimento na cidade de Mossoró.

Segundo sua filha SÔNIA, um dos desejos de NIZINHA é voltar a ter uma casa no Sítio Jatobá, próximo à casa de seus pais. Pela idade, a família reluta, porque ela precisa de cuidados na saúde que um centro urbano maior pode oferecer. Isso, porém, não a afasta dessa terra amada, seu torrão, o início de sua história. Comumente ela volta para sentir o cheiro do mato, dormir sob o sereno desse chão, contar suas histórias de vida aos seus parentes, fazer-se presente no Jatobá, que tanto lhe faz bem.

Nessa terra, quando a ela vem, NIZINHA não encontra apenas os familiares. É enorme o número de amigos e pessoas queridas de NIZINHA. Todos são a representação humana de suas raízes, de suas origens, de sua vida de criança, adolescente e adulta.

Apaixonada por sua terra, temente a Deus e devota de Nossa Senhora, a Mãe de Jesus, NIZINHA se sente imensamente feliz com essa possibilidade de vir rezar coletivamente com os seus familiares e amigos nesse dia, na casa de seus pais, na presença de seus filhos e netos, na companhia de seus muitos sobrinhos e sobrinhas, amigos e pessoas do seu bem-querer.

Festejar seu aniversário de vida nessa terra, ao lado dos seus, na casa de seus pais, foi um pedido e quase uma exigência de NIZINHA a seus filhos, pedido este prontamente atendido.

Com isso, o presente de aniversário também é nosso, pois todos nós, em maior ou menor relação, devemos muito a NIZINHA, por tudo o que ela fez e ainda faz por essa família.

Parabéns, NIZINHA! Feliz aniversário! Que o Senhor Deus prolongue sua existência entre nós. E obrigado por tudo!

Alcimar Antônio de Souza

O texto foi apresentado na missa de ação de graças de RAIMUNDA ANÍZIA ALVES DE ANDRADE, celebrada no dia 18 de maio de 2024, na casa de SIRINO ANDRADE NUNES, no Sítio Jatobá, Zona Rural de Patu (RN).

O texto tem informações de SÔNIA ANDRADE ALVES (filha de NIZINHA) e MARIA DA GLÓRIA ROCHA DE ANDRADE (sobrinha de NIZINHA).


quarta-feira, 1 de maio de 2024

Origens

Dênis de "seu" Luiz

Em Messias Targino tive vários domicílios ao longo da vida. No entanto, foi na antiga Rua João Jales Dantas, atual Avenida Genuíno Fernandes Jales, bem no centro da cidade, onde passei mais tempo, desde que eu e minha mãe, Maria José de Souza, ou Maria do Junco, chegamos à cidade quando eu tinha entre quatro e cinco anos, após passagens por Patu, onde nasci e onde moramos por vários anos, e por Natal, onde residimos por algum tempo precisamente nos fundos da casa do professor Júlio Benedito, que dá nome à principal Escola da rede municipal de ensino do Município messiense.

Nessa mesma rua moravam Luiz Soares de Brito, popularmente conhecido como “seu” Luiz Vaqueiro, casado com dona Maria José Rodrigues, e sua belíssima família, da qual destaco, sem desmerecimento aos demais, o próprio “seu” Luiz, sua filha Antonia Lobato (nossa professora Antonieta ou Tieta) e outro filho de “seu” Luiz, Wendell Rodrigues de Brito.

Apesar do nome pomposo, Wendell para nós se tornou conhecido como Dênis de Luiz Vaqueiro, ou simplesmente Dênis, ou, ainda, numa simplificação mais sertaneja, Dene.

Crescemos juntos, na Rua João Jales Dantas e nos seus arredores, num tempo em que a pavimentação sequer havia chegado à nossa rua, o que nos permitia horas e mais horas de muitas brincadeiras, inclusive o tradicional joguinho de futebol.

Quando não jogávamos na própria rua, íamos bater uma bola nos fundos da casa da minha avó Noêmia e nos fundos da casa vizinha à de minha avó. Nesta casa vizinha, na época, funcionou por muitos anos um bar, que não costumava abrir cedo do dia.

Logicamente mamãe, muito severa, nem sempre permitia aquele barulho de tantos meninos tentando provar para si e para os demais que tinham algum talento para a prática desse esporte coletivo (e na verdade, não tínhamos muito).

Porém, mamãe, catequista e agente de pastoral, tinha muitos compromissos na Capela de Nossa Senhora das Graças (de Messias Targino), na Paróquia de Nossa Senhora das Dores (de Patu) e até na Diocese de Santa Luzia (de Mossoró). Não raramente se ausentava para participar de reuniões, assembleias pastorais paroquiais, assembleias pastorais diocesanas, encontros de catequistas e agentes de pastoral, e assim por diante.

Aliás, a professora Tieta teve também enorme participação, como voluntária, nos trabalhos da Capela de Nossa Senhora das Graças, além de ter sido exímia professora da rede pública de ensino.

Voltando ao nosso futebol, quando o praticávamos por trás da casa da minha avó Noêmia, contávamos com a complacência dela, que colocava em prática o jargão de que os avós gostam mais dos netos do que dos filhos, de modo que, na ausência de mamãe, nós transformávamos o quintal da sua casa num sofrido campinho de futebol.

Dênis de seu Luiz, meu primo Rondinelli Almeida, nosso amigo Getúlio Oliveira Lima (o popular Memeia de Luza de Ricardina, de saudosa memória), meu primo Vilmar de Souza (Lunga de Tronqueira) e tantos outros se juntavam nas brincadeiras diárias. Era um tempo em que não tínhamos telefone (aliás, a cidade apenas tinha o posto telefônico da TELERN, de uso coletivo), e, tirando os horários de estudo, ficávamos livres para sermos essencialmente crianças e, mais adiante, adolescentes tipicamente felizes.

O futebol, por sinal, era apenas uma das nossas atividades de passar o tempo, ou de aproveitamento da vida, ou simplesmente de fortalecimento da amizade. Tínhamos várias outras. Na adolescência, criamos uma banda musical, cujo “empresário” era Cleóbulo Ferreira (ou Cleobe de Rita de Geraldo), da qual fazíamos parte eu, Dênis e Rondinelli. Os ensaios ocorriam num prédio vazio que existia ao lado da casa de Cleóbulo, que ficava na mesma Rua João Jales Dantas, próximo à minha casa e à casa de “seu” Luiz.

O tempo passou e a vida exigiu que buscássemos caminhos diferentes. Em 1990 fui morar em Mossoró, para cursar o pré-vestibular e tentar o ingresso no ensino superior.

No caso de Wendell Rodrigues, ou Dênis de seu Luiz, ele acompanhou a sua irmã Antônia (Tieta) no rumo das Minas Gerais. Ela havia ido para aquele Estado em 1983, fixando-se em Juiz de Fora, e Dênis foi para lá, para morar, em 1992.

Depois que ele se foi para Minas Gerais, praticamente perdemos o contato, que, contudo, foi restabelecido anos mais tarde por via remota, após o surgimento das redes sociais da internet. Passei a segui-lo em suas páginas virtuais e ele também passou a me seguir. Vez por outra dizíamos alguma coisa um ao outro, mas sempre de forma concisa e com a frieza das palavras digitadas, que continuam longe de traduzir ou substituir uma conversa presencial, um abraço amigo, um aperto de mão.

Pelas redes sociais, e também por informações de sua sobrinha Regivânia Rodrigues de Almeida, que continua residindo em Messias Targino, fiquei sabendo que Dênis estava bem, havia constituído família, e se tornou pai de dois filhos (Nicolly e Luigi). E isso me deixava imensamente feliz, porque um amigo sempre fica feliz quando sabe que o outro, mesmo distante, encontra-se bem, no rumo certo.

Todavia, no último dia 14 de abril, fui surpreendido pela trágica notícia da morte do amigo Wendell Rodrigues, ou Dênis de seu Luiz. Vi a trágica notícia em página pessoal da professora Regivânia, e ela também foi informada pela professora Tieta em grupo de mensagens do qual fazemos parte.

Dênis nos deixou cedo, pois tinha apenas quarenta e nove anos de idade. No entanto, não gosto nem me atrevo a questionar os desígnios de Deus. Talvez seja verídico aquele dito popular de que “Deus leva primeiro os melhores”, pois certamente Dênis estava entre os melhores aqui na terra.

Infelizmente, a vida não nos deu a chance da última conversa presencial, de um último abraço. A distância que gera o progresso pessoal é também a distância que faz nascer a saudade.

Mesmo assim, Dênis, gostaria de lhe prestar essa última homenagem, simplória, porém cheia de sinceridade. Orgulha-nos o homem que você se tornou: responsável, trabalhador, pai exemplar.

Através de sua irmã Tieta e da sua sobrinha Regivânia, gostaria que essa singela homenagem chegasse aos seus filhos, para que eles também soubessem um pouco que, antes de partir para Minas Gerais, Wendell, ou Dênis, havia deixado raízes bem fincadas nesse solo nordestino e em terras messienses. E, mais que isso, que deixou também amigos e pessoas que gostavam muito de Dênis de seu Luiz Vaqueiro.

O pedido a Deus é para que receba Dênis de seu Luiz no Reino do Céu!

Alcimar Antônio de Souza

Um amigo

sábado, 16 de março de 2024

Origens

O Ofício

27 de novembro é o dia dedicado a Nossa Senhora das Graças, uma das muitas denominações dadas pela Igreja Católica a Maria, a Mãe de Jesus Cristo. Ela é a Padroeira de diversos Municípios do Rio Grande do Norte, incluindo-se Messias Targino, além de dar o nome a diversas Paróquias espalhadas pelo Estado.

Em 2023, a festa cristã-católica alusiva à Maria Santíssima trouxe-me uma recordação de infância, que graças a Deus nunca me saiu da lembrança. Pela correria do cotidiano, fui adiando o dia do registro, até que, nesses dias, novamente diante da Capela de Nossa Senhora das Graças, senti que preciso compartilhar essa recordação.

Em Messias Targino, meu principal ponto de moradia foi a casa de minha avó materna Noêmia Maria de Almeida, ou Noêmia de Soro (apelido de seu pai Manoel Fernandes Jales), ou Noêmia da Igreja (referência ao seu trabalho de zeladora da Capela de Nossa Senhora das Graças, por décadas).

A minha casa, na antiga Rua João Jales Dantas, agora Avenida Genuíno Fernandes Jales, estava localizada em frente à Praça Central João Jales Dantas e a poucos metros da Capela de Nossa Senhora das Graças.

Nessa época eu ainda dormia cedo, e, por consequência, também acordava mais cedo.

Em todos os dias da semana, eu geralmente acordava instigado pelo cheiro do café que a minha avó fazia, num fogão a base de lenha, encravado na arquitetura rústica e simplória da cozinha, que ficava a poucos metros da sala onde eu costumava espichar a minha rede, bem ao lado da rede da minha avó, a quem sempre fui muito apegado e por quem sempre fui muito protegido.

O café da minha avó era aquele comprado em grãos, que ela pisava num pilão de madeira de cerca de um metro de altura e depois torrava num grande tacho, no velho fogão a lenha.

Mas, aos sábados, eu era acordado por outro motivo. Não era o aroma do café que me puxava da surrada rede.

Dormindo a uma curta distância da Igreja de Nossa Senhora das Graças, de lá eu ouvia uma música lindíssima, uma entoação afinada, uma prece em forma de cânticos. Eram a minha avó Noêmia, minha mãe Maria do Junco, minha tia Rita, minhas tias-avós Áurea, Antônia e Sebastiana, minha “tia” Basta (Basta de Tonho de Rafael), minha “tia” Zira e várias outras mulheres da comunidade cantando o Ofício de Nossa Senhora das Graças.

Sim, o Ofício de Nossa Senhora das Graças, cantado, era uma tradição bastante comum na época.

Se atentarmos para o entendimento de que Canto Gregoriano é o canto litúrgico próprio da Igreja Católica, ou um gênero de música sacra cristã que tem suas raízes em tradições musicais judaicas de recitação salmódica, então podemos dizer que estávamos diante (ou a poucos metros, no meu caso) de autênticos cânticos gregorianos, entoados por pessoas humildes, de religiosidade e fé inabaláveis.

Cantavam mais com a alma do que com a voz, de tão linda que era aquela entoação. Brincavam de fazer primeira e segunda vozes, com estilo inigualável. Minha tia-avó Antônia Almeida (Toinha de Soro), por sinal, fazia uma segunda voz de causar inveja a muitos cantores profissionais.

Numa cidade pequena, de quase nenhum movimento urbano nas primeiras horas da manhã, os cânticos entoados no Ofício de Nossa Senhora transpunham as paredes bem fornidas da Capela, e, entre janelas e portas, espalhavam-se suavemente por todo o Centro da cidade.

O espanto é que grande parte do Ofício era entoado em Latim, sendo que algumas das cantoras daquele belíssimo coral sabiam pouco até mesmo de Português, a nossa língua.

Não era apenas a tradição do uso do latim pela Madre Igreja Católica que “ensinava” aquelas mulheres a cantar o Ofício de Nossa Senhora na “língua-mãe”. Acredito – e isso é convicção minha – que Deus lhes tocava profundamente o coração e a alma, e lhes dava o dom de cantarem com tanta maestria o Ofício dedicado à Mãe de Jesus Cristo, a quem Deus, através do Anjo, confiou a missão de gerar seu Filho Unigênito.

Essa lembrança me traz muitas saudades, de um tempo de vida maravilhoso (apesar das dificuldades da época) e de pessoas que nos amaram e às quais nós amamos, talvez sem nunca termos dito isso uns aos outros.

A execução do Ofício de Nossa Senhora das Graças durava, em cada sábado, cerca de quarenta e cinco minutos a uma hora. Porém, ainda hoje, de vez em quando, principalmente aos sábados, pego-me ouvindo aqueles cânticos, e vêm à minha lembrança as imagens de todas aquelas mulheres, principalmente da minha avó Noêmia, a quem muito devo por tudo o que me fez e me ensinou de bom.

Ave, cheia de graça!

Alcimar Antônio de Souza