A esperança não tem dono
O segundo turno
da eleição presidencial está chegando. Nesse domingo, 30 de outubro, voltamos
aos locais de votação para reafirmarmos o nosso compromisso com a democracia.
Exerceremos um direito, que também é, ao mesmo tempo, um dever.
No Brasil, houve
um tempo em que se debatia eleições presidenciais com civilidade, discussão de
ideais, opiniões sobre linhas programáticas de cada partido, etc. Infelizmente,
esse tempo passou. Agora, sobram agressões, notícias falsas, assédio religioso
eleitoral, assédio moral eleitoral, ameaças, intolerância e medos.
Sim, temos
medos, no plural: de sermos agredidos por nossa posição política, de sermos
ofendidos por sermos nordestinos, e de sermos intimidados por termos posições
diversas daqueles que agora se escudam no discurso de ódio de seu líder para se
acharem no direito de atacarem, agredirem, ofenderem.
Numa pátria em
que o governo central valoriza as armas de fogo e despreza os livros, o medo de
um segmento maior da sociedade se faz nascente.
Nos últimos
quatro anos, assistimos diariamente a agressões e mais agressões a mulheres,
jornalistas, profissionais de saúde (principalmente durante a pandemia da
Covid-19), pessoas mais humildes, negros, homoafetivos e, de forma coletiva, a
nós nordestinos, a quem se manda comer capim, a quem se chama de miseráveis, a
quem se adjetiva como mortos de fome.
Levamos séculos
para tornarmos realidade os direitos conseguidos à custa de muitas lutas e até
de vidas humanas. Levamos décadas para recuperarmos a democracia, jogada ao
chão naquele golpe de Estado de 13 de março de 1964, a partir de quando o País
mergulhou num negro e extenso período de repressão, torturas e mortes,
praticadas por um regime ditatorial que tinha, dentre outros, o coronel Carlos
Brilhante Ustra.
Mencionei o nome
específico do coronel Ustra porque ele, com seus feitos desumanos, continua a
ter no País um grande apologista e admirador, que é o atual Presidente da
República. Aliás, o atual governante do País aplaude toda a ditadura militar,
zombando das famílias que ainda hoje procuram os corpos de parentes que morram
nos porões da ditadura, como zombou sem qualquer constrangimento das vítimas da
pandemia do novo coronavírus.
De certo, também
batem palmas para o general Ustra e para o violento regime dos militares, e
também fazem o mesmo pouco caso das quase setecentas mil mortes da Covid-19, os
eleitores do atual Presidente, os que se dizem cristãos mas o seguem fielmente,
os que vislumbram possuir dezenas de armas de fogo e os que, por interesses próprios,
enxergam-no como ideal para a manutenção das benesses sociais e econômicas,
destinadas a uma pequena elite, em detrimento de uma imensa maioria que está na
miséria ou muito perto dela.
No início, até
pensei em denominar o texto de “A esperança vencerá o medo”. Todavia, preferi o
título ora utilizado apenas para realçar que a opção dos mais pobres e do povo
em geral por um candidato de esquerda, nesse momento, não é obra de conquista
desse ou daquele político, ou dessa ou daquela liderança, mas sim da vontade do
povo, cansado de tanto sofrimento e de tanto abandono de parte de um Governo
Federal que privilegia uns poucos e maltrata milhões.
O voto para Luiz
Inácio Lula da Silva, nesse instante, é uma consciente manifestação de vários
setores da sociedade brasileira, principalmente da camada economicamente mais
pobre. É um sim à permanência da democracia, constantemente abalada por
arroubos autoritários da direita e de seu líder maior nesse momento; um sim ao
direito da livre manifestação do pensamento, tolhido e perseguido no atual
momento da vida política brasileira; um sim a um pedido coletivo de volta à
normalidade, pois infelizmente vivemos tempos sombrios, em que milícias armadas
e milícias digitais, ao lado de medidas governamentais absolutamente
equivocadas, assustam e comprometem o exercício das liberdades individuais e
coletivas, conquistas tão duramente.
A opção por uma
mudança nesse momento é, acima de tudo, uma manifestação de ESPERANÇA: por mais
educação e menos armas de fogo; por mais natureza e menos destruição; por mais
dignidade e menos gente na linha da pobreza; por mais comida na mesa dos
brasileiros, e nenhuma pessoa na fila do osso ou atrás do carro do lixo em
busca de restos de alimentos.
Esse voto de
esperança não tem dono, pois pertence a cada um e a cada uma dos milhares de
brasileiros e brasileiras que, de norte a sul, de leste a oeste e, principalmente,
nesse rico Nordeste, almejam dias melhores, noites mais tranquilas, paz mais
presente.
De fato, a
esperança não tem dono: pertence a cada um!
Alcimar Antônio de Souza